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Ainda sobre a felicidade

Estimado leitor, domingo passado encerrei meu artigo com uma indagação: como atingir uma felicidade realmente verdadeira?

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 12:57
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Estimado leitor, domingo passado encerrei meu artigo com uma indagaçã como atingir uma felicidade realmente verdadeira? A resposta parece ser simples. Ser feliz requer a satisfação de todos os desejos. É por isso que o filósofo Kant define a felicidade como “a totalidade das satisfações possíveis”.

Por outro lado, parece que ser feliz significa, também, não possuir nada mais para desejar. Satisfeitos todos os nossos desejos, já não teríamos nenhum mais, uma vez que o desejo se esvai no momento de sua satisfação, como a sede desaparece quando se toma água. O desejo morre no êxtase do prazer.

Mas, então, a felicidade não é algo contraditório? Se realizarmos todos os nossos desejos, corremos o risco de afundarmos no tédio. E o tédio implica que tenhamos, ao menos, um novo desej o de alguma novidade que venha a romper a monotonia de nossa existência.

Um estado duradouro de vida sem desejos parece absurdo, pois produziria uma angústia geradora de desejos ou, então, seria a morte, uma morte completa, absoluta, sem sensações nem pensamentos. Para escaparmos dessa incômoda contradição, podemos pensar que o estado de felicidade não consiste na realização instantânea de todos os nossos desejos, mas que a satisfação de nossos desejos deva ser harmoniosamente distribuída ao longo de toda a nossa vida.

Assim, o prazer do saciamento de um desejo deve ir perdendo a intensidade, diminuindo, até ser substituído pela nova satisfação de um novo desejo. Isso sempre sem interrupção, para que estejamos constantemente no estado de felicidade perfeita.

Portanto, para sermos felizes, seria preciso a existência de novos desejos, mas que fossem satisfeitos de imediato, sem espera, que despertaria qualquer tipo de sofrimento, fatal à nossa felicidade.

Entretanto, ter nossos desejos e vontades atendidos prontamente, sem que tivéssemos que esperar tempo algum por eles, é humanamente impossível. Por mais que a vida tenha sido generosa com alguém e tenha lhe provido de coisas boas, em algum momento, ele haveria de ter que esperar para saciar alguma vontade. Não parece ser isso a felicidade.

Se a felicidade não está em satisfazer todas as nossas vontades (o que seria impossível) nem em abolir o desprazer de esperar por ela, onde, afinal, se encontra a tal vida feliz? Simples: na sua busca. Não é alcançando o que tanto desejamos que seremos felizes. Nem mesmo ter sempre tudo, não tendo nunca que esperar por algo.

É no caminho que trilhamos, nos obstáculos que vencemos e nas atitudes nobres que praticamos que se encontra a grande felicidade. O nosso maior erro é não perceber que caminhar é mais importante que o lugar para o qual o caminho nos leva. Esse lugar é mera consequência da caminhada.

Quando pensamos (e praticamos) assim, descobrimos que a felicidade está permanentemente disponível para nós, uma vez que podemos, a qualquer momento, iniciar uma nova caminhada. Entrementes, é preciso deslocar o nosso olhar, que somente valoriza o fim último das coisas, para a importância dos meios que usamos para consegui-las.

Infelizmente, o pragmatismo dos dias atuais não nos permite pensar assim.

(*) Doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, Facthus e da UFTM

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