ARTICULISTAS

Ainda sobre a Educação

Os textos do escritor Rubem Alves sempre me encantam

Terezinha Hueb de Menezes
Publicado em 02/09/2012 às 14:35Atualizado em 19/12/2022 às 17:36
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Os textos do escritor Rubem Alves sempre me encantam. Ouvi-lo falar sobre suas experiências de vida, seus anseios, esperanças e desencantos provoca, em cada um de nós, a certeza do compartilhamento de tudo que aflige e alegra os seres humanos.

De tudo que Rubem Alves proferiu, na tão bem organizada Festa Literária, calaram, dentro de mim, suas referências à educação brasileira: chamou os que legislam e decidem os destinos das escolas - com todos que as envolvem - de burocratas de Brasília. Penso, e já falei muitas vezes, que minha impressão é a de que aqueles que decidem sobre a legislação escolar e também sobre as transformações que julgam necessárias nunca trabalharam em escola. Penso mais: é impossível saber e decidir sobre o melhor para o sistema educacional se aqueles que o fazem não percorreram os vários patamares dentro de uma instituição escolar, para que conheçam os meandros que envolvem alunos e professores em sua ligação com a sociedade. O que é melhor para os alunos? O que é melhor para os professores, hoje tão desvalorizados em relação a prestígio e a salários? O que é melhor para a sociedade?

Eu nunca havia pensado na expressão grade curricular como uma cadeia: o escritor despertou em nós essa acepção. Realmente, todos que lidamos com escolas nos sentimos engaiolados: e a maior das prisões é aquela que se refere ao vestibular. Pobres alunos! São obrigados a engolir goela abaixo, como sugeriu Rubem Alves, a parafernália que envolve a extensa gama de conteúdos, estudada em toda a vida. É ignorado o pendor de cada um, suas facilidades ou dificuldades nas várias áreas do conhecimento. O aluno que vai cursar medicina, por exemplo, é obrigado a dominar as ciências exatas, ainda que ele queira aprofundar-se nas ciências biológicas, alicerce para sua vida universitária futura. O que ficará de tudo isso? Quase nada. Com isso, a escola, que deveria ser um espaço prazeroso, passa a exigir de todos nós – administração, corpo docente e discente – que entremos nessa roda que gira contra o tempo, com apostilas e mais apostilas, simulados e mais simulados, preparação neurótica para os grandes vestibulares. Tempo para a leitura? Não é necessári na onda de enganação, se o professor não souber estimular o aluno para a leitura, o que receberá serão resumos dos livros extraídos do Google.

Assim, a cultura geral dos educandos ficará comprometida. Por isso, como frisou o escritor, precisamos colocar livros e mais livros nas mãos das crianças e dos jovens; mostrar-lhes que, neles, o conhecimento virá de forma prazerosa, abrindo-lhes as janelas do mundo do conhecimento.

O que nós, aqui embaixo, poderemos fazer para melhorar a situação educacional do país? Resolve conceder 50% de cotas raciais (para alunos negros, índios e pardos) nas universidades? Se vocês, amigas e amigos leitores, tiverem a receita, por favor, não fiquem calados. Quem sabe o ecoar de vozes uníssonas, em direção a ideais comuns, poderá mudar a situação educacional do Brasil?

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro [email protected]

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