Não sabemos, com exatidão, o que tem acontecido com o tempo
Não sabemos, com exatidão, o que tem acontecido com o tempo. Mal começa o dia e rapidamente termina. Mal se inicia a semana e, célere, chega o sábado. Mal o mês aponta em seu primeiro dia e, como corisco, surge o seu final. Assim também com cada semestre e cada ano.
Corremos o tempo todo. Assim também os outros. Ninguém tem mais tempo para nada. É o que ouvimos de amigos para os quais falamos a mesma coisa.
Com isso, aquilo que é essencial em nossas vidas vai sendo protelado. Visitar como aquela colega adoentada, se na mesa a pilha de papéis nos exige leitura rápida e soluções mais rápidas ainda? Assistir como àquele espetáculo tão esperado, se não podemos protelar nenhuma obrigação?
E as obrigações não findam. Multiplicam-se de forma assustadora. E é cada um correndo mais que o outro. Com isso, quando pensamos estar em maio, eis que a folhinha anuncia já o mês de junho. E logo finda o semestre.
Assim vai caminhando o ano e nós com ele. Lembro-me de uma fala do saudoso Monsenhor Vicente Ambrósio dos Santos: “Quando chega o mês terminado em bro, o ano já terminou.” E é verdade: com a chegada do mês de setembro, já se ouvem os sinos e os cânticos de Natal, não para anunciar a proximidade das comemorações do nascimento de Jesus, mas para estimular ao consumo interminável de presentes, cada loja querendo oferecer mais, melhor e mais barato.
Com a constatação de que não conseguimos acompanhar o roldão do tempo, a nós, mais velhos, vem a preocupação de tentar, pelo menos tentar, cumprir os projetos em andamento. Sabemos de tantos livros começados e deixados incompletos por motivo de doença ou morte de seus autores. E como em relação a livros, assim também em todas as áreas de atividade. Por isso cada um de nós precisa correr contra o tempo.
Vem-me agora uma lembrança interessante: criança ainda, era comum ver minha mãe, acompanhando a sogra a visitas vespertinas. Interessante ainda lembrar que minha mãe, como as outras senhoras da época, só saíam para visitar alguém, ou para outro evento qualquer, usando meias finas. E não havia o hábito de aviso antecipad as amigas ou parentes estavam sempre em casa e era alegria o reencontro.
Pensemos na correria de hoje: poucos param em casa; poucos podem também dar-se o luxo de fazer visitas, principalmente durante a semana. Menos ainda, visita sem aviso antecipado. Com isso, vão-se dissolvendo as relações familiares e de amizade.
E vamos caminhando. Correndo contra o tempo, que corre de nós. Até quando, só Deus sabe...
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro