ADEUS BP – II

A história quase centenária do Estádio Dr. Boulanger Pucci se resume hoje em uma certeza e uma dúvida. A certeza é de que ele já, definitivamente, não pertence mais ao Uberaba Sport Club. A dúvida é se ali, onde muitos craques famosos e outros nem tanto, correram atrás da bola durante quase um século, teremos dentro de algum tempo um condomínio de arranha-céus, um shopping center, uma área verde ou um centro de lazer. Na semana passada, por problemas técnicos, deixei de enviar esta coluna para o JM e o seu título era o mesmo de hoje. Passou-se uma semana e a situação do estádio é a mesma: ou vai para as mãos dos empresários que o arrematou, segundo alguns pela metade do preço de mercado, ou para a Prefeitura Municipal, numa desapropriação que está sendo estudada, mas que se acontecer, não poderá ser por valor superior ao do lance final do leilão de dias atrás. A diretoria colorada, e os torcedores mais otimistas, torcem e esperam que aconteça a desapropriação. Há quem garanta até ter ouvido do prefeito Anderson Adauto a promessa de que acontecendo a desapropriação, o Uberaba Sport Club poderia continuar utilizando o espaço, que durante quase um século foi o seu maior patrimônio imobiliário. Triste realidade: torcer para ficar morando de favor, por algum tempo, na casa que lhe pertencia. Nas conversas dos otimistas com a desapropriação pela municipalidade, o clube poderá ganhar um outro local para ali construir o seu sonhado centro de treinamento, enquanto usa normalmente o BP. Fala-se até em uma área junto ao Residencial 2000, que quem conhece garante ser boa, e em condições de abrigar no mínimo dois campos de futebol com dimensões oficias, e outras benfeitorias, necessárias para abrigar as diversas categorias do clube.   Acontece que existem também algumas indagações que ainda não puderam ser respondidas, uma vez que não se sabe qual será o destino do já quase saudoso Estádio Dr. Boulanger Pucci. Entre elas está a que agora parece ter sido esclarecida como não passando de mera lenda, mas que durou várias décadas: o Estádio Boulanger Pucci não pode ser negociado em hipótese alguma, pois na documentação de sua doação, no início do século passado, há uma cláusula que garante que deixando de pertencer ao Uberaba Sport Club, a área teria que ser doada à Santa Casa de Misericórdia. Como nem a Santa Casa existe mais, a tal cláusula, se é que ela existiu mesmo, não impediu a realização do leilão para pagamentos de dívidas. Outras indagações. Prevalecendo o resultado do leilão, cujo lance vencedor foi de pouco mais de dois milhões de reais, esta importância seria suficiente para o clube saudar todas as suas dívidas? Sobraria algum dinheiro para ser aplicado na construção de um novo Centro de Treinamento? Se o dinheiro não for suficiente para pagar as dívidas, o clube além de não ter lugar para treinar, continuaria tendo suas rendas penhoradas? Seria possível o Uberaba Sport Club sobreviver sem nenhum patrimônio físico e ainda com dívidas?   Caso a Prefeitura Municipal, com ajuda da Câmara de Vereadores, consiga inviabilizar a aquisição dos empresários via leilão, e faça a desapropriação do imóvel, ele poderá ficar sendo utilizado pelo Uberaba por quanto tempo? É possível a municipalidade cedê-lo para o clube, através de um comodato ou algo semelhante, por um longo período? Caso a prefeitura decida utilizar o estádio para algum de seus programas esportivos, seria possível uma conciliação entre os interesses do futebol profissional e a atividade pública? Mesmo quando todas estas indagações forem esclarecidas, e se elas de alguma forma beneficiarem o clube, ainda assim, não dará para se conformar com o acontecido. Assistir o Uberaba Sport Club perder, em um curto espaço de tempo, dois patrimônios valiosíssimos como o Clube Cascata e o Estádio Boulanger Pucci, por quantias infinitamente inferiores aos seus valores reais, e ainda ficar atolado em dívidas, é de desesperar qualquer torcedor. Qual será o futuro do USC? Ele sobreviverá a tudo isto? São duas perguntas cujas respostas serão conhecidas brevemente. É bom que se esclareça que tudo isto não está acontecendo por culpa exclusiva da atual diretoria. É um processo que vem acontecendo há vários anos, e que agora parece estar chegando ao fim, nas mãos dos atuais dirigentes. Eles podem até ter alguma parcela de responsabilidade, mas bastante pequena diante de todo o problema. O Uberaba Sport Club está pagando por ações e decisões de dirigentes que por incompetência, desonestidade, ingenuidade, ignorância e irresponsabilidade o deixaram chegar a este ponto. Existem muitos clubes falidos no futebol brasileiro, mas poucos são aqueles que perderam seus patrimônios, construídos com amor e luta por muitos abnegados ao longo de muitos anos. O consolo é que nem tudo está perdid ainda restam a torcida e o hino.   ROLA A BOLA Se fora de campo a situação do Uberaba está complicada, felizmente dentro das quatro linhas e na tabela de classificação do campeonato, ela é uma das melhores dos últimos tempos. Felizmente o time está chegando ao final da primeira fase do Campeonato Mineiro numa situação tranquila em relação ao rebaixamento, que em 2008 só foi evitado no último minuto, do último jogo. Faltando quatro rodadas para o término da fase, o colorado está com oito pontos de vantagem sobre o penúltimo colocado, e somente uma desastrada campanha o colocará em posição de risco. Não há dúvida de que dos jogos restantes, o mais fácil é o da tarde de hoje contra o Social, mesmo sendo no campo do adversário. Democrata e Tupi, aqui no Uberabão, e o América, em Belo Horizonte, na minha opinião, darão maior trabalho. Não consigo entender como o técnico Pedrinho Rocha, mesmo jogando contra um dos piores times do campeonato, que tem apenas dois pontos ganhos contra os 10 do Uberaba, tenha optado por escalar a equipe com três zagueiros. Ele repete contra um dos lanternas, que ainda não venceu um jogo sequer, o sistema bastante defensivo que usou contra Atlético e Rio Branco e não deu certo, pois o time perdeu os dois jogos e levou sete gols. Tomara que hoje a sorte esteja do seu lado e do Uberaba Sport Club, evidentemente. Conquistando seis dos 12 pontos que ainda disputará, o colorado se classificará para a próxima fase. É importante, no entanto, que não perca hoje, pois caso contrário, a pressão aumentará bastante e os dois jogos em casa poderão ser dramáticos.   BOM DIA ESPECIAL PARA TODAS AS MULHERES