Você já reparou como estamos cada vez mais preocupados com a vida dos outros?
Você já reparou como estamos cada vez mais preocupados com a vida dos outros? Principalmente se não estão de acordo com nosso modo de vida e de pensar. O estranho é que, se não houver nada de negativo, a gente inventa. Damos nossas opiniões sobre o trabalho dos outros, sobre o que devem ler, como mobiliar suas casas, de como escolher seu modo de vestir e assim por diante. Os outros estão sempre errados. Nossas opiniões são mais sensatas e acima de qualquer crítica. Somos os donos da verdade e da sensatez. Podemos até inverter a famosa reflexão de Sartre: “O inferno dos outros somos nós”.
Certa vez. Um aluno de Aristóteles procurou o filósofo e avisou: “Mestre, alguém, em sua ausência, comentou que suas ideias eram sem bases racionais.” Ao que o mestre respondeu: “Na minha ausência podem até me bater”. Não temos o equilíbrio emocional daquele sábio, por isso não nos sentimos indiferentes quando “os comentaristas” interferem em nossas decisões. Sofremos com certos comentários que azedam nossas vidas. Geralmente comentários maldosos e mentirosos. Por que não deixamos que os outros vivam em paz? Há certas pessoas que só se realizam dentro desse esquema de detração. É um insopitável desvio psíquico. É doença. O que temos com a vida dos outros?
A serenidade interior é uma arte conquistada a duras penas e lutas. É um longo treinamento. Um despojamento interior. Para nós, cristãos, é um dom do Espírito Santo. O dom da serenidade está indissoluvelmente ligado ao dom da Sabedoria. É um saber viver com equilíbrio. Ver Deus nos outros é uma tarefa difícil, muito difícil. Aceitar e amar o nosso próximo como ele é constitui um gesto heroico. Destruir é fácil.
Neste exato momento me veio a sensação de que não estou fazendo uma crônica, mas um sermão. Pensei em escrever outra coisa, mas acabei fugindo da rota. Assim sendo, vamos botar um ponto final nessas lamentações e terminar com um texto do apóstolo Tiago que há mais de dois mil anos andou falando sobre esse assunto (Tg 3) e com sabedoria: “Aquele que não tropeça no falar é realmente um homem perfeito, capaz de refrear todo o seu corpo”. Mais adiante: “A língua é um fogo. Como um mundo de injustiça, a língua está posta entre os nossos membros maculando o corpo inteiro e pondo em chamas o ciclo da criação.” Ainda mais: “A língua está cheia de veneno mortífero, com ela maldizemos os homens feitos à semelhança de Deus”.
Meu irmão, minha irmã, vamos deixar os outros em paz?