Na semana passada, um fato me deixou emocionado. Mais do que isto. Deixou-me envergonhado
Na semana passada, um fato me deixou emocionado. Mais do que isto. Deixou-me envergonhado. Teria eu coragem de fazer o que fez aquela senhora? Até onde vai minha vivência religiosa?
Eis o fat uma pobrezinha bateu à porta de uma casa e pediu ajuda. Queria um remédio para diarréia. Estava num estado lastimável. Já perdera o controle e toda aquela matéria pútrida descia pelas pernas abaixo. O mau cheiro era nauseante. Não pedia dinheiro nem comida. Queria um remédio. É muito difícil acreditar, mas aquela senhora levou aquela infeliz para o banheiro e fez com que ela tomasse um banho geral e tivesse condição de voltar para sua casa, limpa e com cheiro de talco. Eu teria coragem?
A maioria absoluta da população afirma ter um tipo qualquer de religião. Mas, que religião é essa? Quando olhamos com sinceridade para dentro de nós mesmos, nosso comportamento religioso nos assusta. Muitos procuram na religião “respostas” para os acontecimentos que nos agridem. Resposta para a morte, para o câncer, para o Alzheimer, para o suicídio, para o desastre. Respostas para a dor e o sofrimento. Para esses tipos de religiosos, a religião é uma espécie de departamento de “pergunte e responderemos”, todas as respostas bem arrumadinhas em gavetas especiais. É só abrir a gavetinha e lá vêm as respostas prontinhas, inventadas não se sabe por quem. Religião boa, para certos cristãos, é aquela que não exige nenhum compromisso. Não há nenhuma exigência de amor, de perdão, de justiça, de respeito pela vida do outro, de compaixão, de misericórdia, de compreensão e tolerância.
Ser cristão não consiste em pedir respostas a Deus. Jesus já se queixava dessa distorção. Ser cristão é responder aos apelos de Deus, que me foram transmitidos por Jesus quando ensinava. As respostas não são de Deus. Ele não tem nenhuma obrigação de me dar respostas. As respostas devem ser dadas por mim. Ele apenas faz o convite para o Reino. Ele apenas mostra o Caminho. Aceitar ou não aceitar depende de mim. A resposta é minha. Deus não tem obrigação de dar explicações a ninguém. Esse costume de abrir a Bíblia ao acaso “para descobrir o que Deus tem a me dizer” naquele momento, é pura superstição.
Essa religião “light”, que anda crescendo por aí, é uma religião descompromissada. Rótulo, nada mais! É uma tentativa de instrumentalizar Deus, de colocar Deus a meu serviço e aos meus caprichos.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro