Não estou a par do que se passa, mas tenho lido queixas pesadas aos vestibulares atuais
Não estou a par do que se passa, mas tenho lido queixas pesadas aos vestibulares atuais. Como desconheço o problema, não tomo partido. Vez por outra, Rubem Alves voltava ao assunto. Isto faz tempo.
Trago ao leitor o que me contaram. Numa dessas provas de vestibular, foi pedido, como redação, que os alunos escrevessem uma carta ao pai (ou a quem lhes interessasse) narrando as impressões de um possível ingresso em tão procurada instituição educacional. Apenas uma exigência era pedida, que o aluno, nessa redação, deveria empregar os seguintes termos: óbvio, plausível, peremptório, beletrista, cooptar, resquício, melífluo, eludir, castiço e plasticidade. Os alunos fizeram o que lhes foi possível, o que lhes permitia a sua “vasta” cultura. O resultado foi que a maioria deles não chegou a três por cento de acerto. A carta de um deles, porém, trouxe um problema à equipe responsável pelo julgamento daquelas redações. Julgue o leitor.
“Meu caro pai, o senhor sabe como alimentei o ideal para atingir a uma universidade. Não porque iria proporcionar-lhe alegria, mas principalmente porque, fazendo um curso superior, eu poderia dar um pouco mais de mim mesmo para a formação da cidadania de todos aqueles que merecem um lugar ao sol e nem sempre lhes são reconhecidos os direitos fundamentais. O senhor sabe o quanto estudei para o vestibular. Varava noite adentro e, vez por outra, ouvia sua voz preocupada: “Meu filho, vai dormir um pouco, não é preciso estudar tanto.” Tenho a impressão de que estou fazendo boas provas. São difíceis. A prova de redação, por exemplo, foi, no meu modo de ver, a que mais exigiu de nós. Imagine o senhor, que nos foi dado como questão, escrever uma carta, sendo que, nesta carta, deveríamos empregar os seguintes termos: óbvio, plausível, peremptório, beletrista, cooptar, resquício, melífluo, eludir, castiço e plasticidade. Como o senhor vê, não foi fácil. Não são palavras do linguajar de todos os dias. São termos que exigem um certo grau de cultura e um conhecimento acima do comum.
Nossas provas terminam amanhã. Espero levar-lhe um bom resultado. Não quero que o sacrifício que tem feito por mim seja em vão.”
Examinada a carta, a bancada de julgamento ficou num impasse. O rapaz empregou, adequadamente, os termos pedidos ou não? Usou de subterfúgio ou de criatividade? Entre prós e contras, decidiram pela aprovação. Afinal, aquele jovem dera uma prova de capacidade, de como sair bem um uma situação complicada.
Você aprovaria?