A mãe do réu

Compartilho. Há uma situação que o juiz leva para casa de doer seu coração. É o olhar da mãe do réu. Como é triste o olhar da mãe do réu, como é aflito, suplicante. E mesmo que se desvie desse olhar, sua voz, seu tremor, seu suor, tudo simultaneamente constrói as chagas daquela dor. Não há como fugir. É peso do ofício.

Ela implora sem reservas, ela mente acreditando na verdade de que seu filho é inocente, ou meramente vítima dos parceiros, ela sofre de verdade. Sofre mais que o réu, seguramente. O olhar da mãe do réu guarda um brilho singular da tristeza maior. O olhar do pai traz um misto de tristeza, vergonha e derrota. O da mãe, não. Traz o próprio olhar da dor. Seu filho sempre é vítima, e ela crê nisso. Seu filho é azarado, é perseguido. Culpado, nunca.

Através da história, mães colheram filhos enforcados, crucificados, visitaram tantos detidos. Infelizes!

Esse olhar de dor é a única lembrança de que o juiz não pode se livrar, é lancinante, é doloroso demais, é melancólico e, mesmo geralmente acreditando a mãe numa falácia, o olhar em si é verdadeiro na sua lástima.

Sepulta uma esperança do socorro do algoz, de quem disfarça seu ódio não confessado, e talvez sequer bem identificado em si. Busca a compaixão, tal qual a que sente por seu rebento. Roga o quanto crê preciso for, sugere qualquer contorno, mas que se faça livre seu filho. Na masmorra não sabe se sentirá frio, fome, dor, desespero, estará longe de seu socorro que, por ser muitas vezes extremo, constrói o próprio réu.

Contudo, Justiça não é casa de caridade. O juiz há de recobrar sempre a razão para o seu coração. Temperar normas e fatos para aplicar o direito no seu equilíbrio possível.

E para as mães dos réus, resta guardar recorrente uma profunda e sincera oração.