A correria dos tempos modernos tem extraído do ser humano sua capacidade de relacionar-se
A correria dos tempos modernos tem extraído do ser humano sua capacidade de relacionar-se harmoniosamente. A falta de tempo, motivada pela multiplicidade de funções, está mecanizando, também, o homem.
Nesse processo de mecanização, muitos se esquecem de duas capacidades geradoras da convivência: a fala e o sorriso.
Há pessoas que se fecham, mal cumprimentando o outro; emitem sons imperceptíveis, os olhos mal olhando, feições emburradas, como se estivessem em território inimigo. A fala é, pois, inexistente ou quase inexistente. Diálogo, portanto, é palavra desnecessária. São, como dizem por aí, “de mal com a vida” e, por isso, destilam seu azedume por onde passam, criando, em torno de si, barreiras indomáveis.
Sorrir é expressão que não se vê nos rostos de tais seres. Normalmente a fisionomia apresenta-se sempre contraída, cenho cerrado, carregado, acompanhando os resmungos indecifráveis.
Elementos com tais características pesam o ambiente e inibem as pessoas circundantes. E a situação piora quando se trata de atendentes em quaisquer tipos de repartições. Na rede privada, normalmente, o zelo e a orientação dos proprietários possibilitam um atendimento melhor aos clientes. O problema se agiganta com referência a instituições públicas e outras congêneres: cada qual se julga patrão em seu posto, muitas vezes a começar pelos detentores de cargos inferiores. E o que se vê, em tais entidades, é um festival de azedume, quase sempre acompanhado da fala (quando existe) autoritária. Não há pressa em atender, muito menos em resolver problemas: é a história de um que passa para o outro, que passa para o outro, que passa para o outro, numa procissão interminável, marcada pela má vontade, ou vontade nenhuma, em atender.
E fico pensand é tão fácil sorrir. É tão fácil dizer uma palavrinha ao outro que, às vezes, aguarda apenas essa palavra, esse sorriso.
Quantos se desencorajam em procurar determinada informação ou serviço com verdadeiro pavor da reação do atendente! E, ao contrário, como é bom encontrar uma pessoa que acolhe sorrindo, pondo-se a auxiliar com delicadeza e prontidão! É desanimador ver o outro atrás de um balcão, lendo displicentemente um jornal, fazendo de conta que não existe ninguém à sua espera.
Creio que vale a pena pensar no assunto. Todo ser humano tem direito a um bom atendimento; todo ser humano tem o dever de atender bem. Dessa recíproca dependem os verdadeiros elos do relacionamento humano.
Nesta vida, ninguém é dono de nada. E, por isso mesmo, é bom que cada um sinta no outro a presença real do semelhante, nem maior, nem menor: semelhante simplesmente.
NOTA: Agradeço à ex-aluna, Maria de Lourdes B. Marinho, a rememoração, de forma tão carinhosa, de meu inesquecível Murilo e suas ações educacionais tão válidas.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro