Interessante seria se pudéssemos recordar todos os detalhes da inegável batalha da qual a ACIU - Associação Comercial e Industrial e de Serviços de Uberaba - foi partícipe
Interessante seria se pudéssemos recordar todos os detalhes da inegável batalha da qual a ACIU - Associação Comercial e Industrial e de Serviços de Uberaba - foi partícipe, para trazer a CEMIG para Uberaba. Vamos relembrar apenas alguns momentos dessa vitoriosa campanha que envolveu várias entidades classistas e autoridades uberabenses.
Lá pela década de 40 circulava uma brincadeira sobre a iluminação pública desta cidade: “Você passou por Uberaba outro dia. Como está a iluminação nas ruas da cidade?” “Olha, nem consegui ver nada, pois quando passei por lá já era noite.”
A falta de energia elétrica estava travando o progresso da cidade; impedia a instalação de novas indústrias e a expansão das já existentes. Era um caos.
Na época, o Estado de Minas Gerais havia criado a CEMIG, que estava realizando um portentoso trabalho em diversas cidades. Iniciou-se, então, um forte movimento no setor empresarial para que a CEMIG encampasse os serviços de geração e distribuição de energia elétrica em Uberaba.
No salão nobre da ACIU realizou-se a primeira reunião com o representante da CEMIG. Estiveram presentes tanto as “forças vivas” da época como aqueles que eram contrários à vinda da estatal para cá.
Celso Brant, pela CEMIG, informou que estava em Uberaba, a convite, para iniciar os estudos a respeito da vinda da estatal para cá. Apresentou-nos sua empresa, mostrou-nos como estava já operando em algumas cidades mineiras, os planos de expansão, as condições exigidas pela empresa...
Nesse momento houve um tumulto na reunião. Havia costume na cidade de não se pagar a conta de luz em dia. A empresa que operava o sistema fingia que fornecia uma boa energia e os consumidores fingiam que pagavam a conta mensalmente. Os devedores juntavam até seis meses de contas, e só então quitavam o débito. E a companhia não efetuava cortes. E uma das bandeiras dos opositores era a de que a CEMIG iria cortar a energia dos consumidores cujas contas estivessem com o pagamento com atraso de um mês e também iria subir muito as tarifas. Doendo no bolso, a situação mereceria ser repensada.
Celso Brant, diante da situação criada, pediu a palavra e fez um esclarecimento históric “Estou aqui como convidado para estudar uma proposta feita à CEMIG. Quero deixar claro que a CEMIG não precisa de Uberaba, mas tenho certeza de que Uberaba precisa da CEMIG.” E retirou-se do recinto.
Após essa reunião, criou-se uma associação das associações de classe de Uberaba, com o objetivo único de estudar a encampação dos serviços de energia elétrica em Uberaba pela CEMIG. Esse consórcio recebeu o nome de UNASBA, União das Associações de Classe de Uberaba, ou algo semelhante. E quem seria o presidente dessa poderosa entidade? Para evitar melindres, Padre Fialho, diretor do jornal Correio Católico, foi escolhido para o cargo.
Na Praça Rui Barbosa foi erguida uma torre de transmissão, de madeira, para simbolizar a luta pela vinda da CEMIG. Os trabalhos foram bem alicerçados e a CEMIG cá está, com seus fabulosos recursos humanos e técnicos. O que Uberaba cresceu com a CEMIG aqui é algo impressionante, indicando que a cidade tinha - e tem - potencial para crescer muito mais. Faltava-lhe, sem dúvida a energia elétrica. Da outra importantíssima energia, ou seja, a capacidade de criar, de lutar e de vencer, os uberabenses já dispunham.
Em outra oportunidade, relatarei aos leitores lances interessantes do tempo da energia elétrica em Uberaba antes da CEMIG e no período de instalação da Companhia por aqui. E por certo, muitos uberabenses que viveram aqueles momentos terão muitos casos para nos relatar.
CEMIG – uma grande batalha na trajetória vitoriosa da ACIU. E uma grande vitória das forças unidas por Uberaba: entidades classistas, Prefeitura, Câmara Municipal, Classe Política, Povo, Imprensa.
(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro