Arrasta-se até a porta e pela fresta vê-se o estandarte de Nossa Senhora do Rosário. Quantas saudades de quando a igrejinha era ali, na Av. Getúlio Vargas
Arrasta-se até a porta e pela fresta vê-se o estandarte de Nossa Senhora do Rosário. Quantas saudades de quando a igrejinha era ali, na Av. Getúlio Vargas, derrubaram-na para abrir a rua. Pisotearam no nosso sangue, na nossa história, na nossa memória. Em nada adiantaram os joelhos sangrados em oração; tijolo por tijolo foram demolidos, e as lágrimas se comparam ao choro no pelouro, onde o capataz batia e se assistia ao corte aberto em carne humana pelas chibatadas. Quando essa foi aposentada, ficou o chicote do olhar discriminatório, das piadas, das indiferenças e do fechar de portas. Nossas crianças negras foram privadas dos referenciais históricos da comunidade negra e ainda tinham que embalar bonecas brancas e ouvir sobre o ser negro feio. (Caixeta – JM/2007).
Os intelectuais do movimento negro fazem de tudo para desconsiderar o 13 de Maio. Alegam que, após a escravidão, não houve a inserção do negro no mercado de trabalho, e nem tão pouco ressarcimento à época do cativeiro. No entanto, os grupos que preservaram as manifestações culturais no 13 de Maio resistem a essa posição e saem às ruas comemorando a libertação dos escravos. É a Páscoa dos negros.
Os intelectuais, geralmente, caminham na contramão das manifestações sociais, querem é a valorização do 20 de Novembro e a figura de Zumbi, em oposição ao 13 de Maio e a figura da princesa Isabel, prestam, assim, um serviço à irrelevância.
Porém, a política racial de Estado não é irrelevante. Porque traduz um objetivo a ser alcançado que é o de demonstrar ao mundo o racismo existente no Brasil, com uma população majoritariamente negra. Que o país é racista, não tem discussão, inclusive o racismo às avessas, ou seja; os discriminados também discriminam os seus discriminadores. Mas, para que o objetivo traçado seja alcançado, a política nacional de raças polarizou a questão da cor entre brancos e negros. E não concedeu aos não-brancos e aos não-negros o direito de dizer que são pardos ou coisa que o valha. Porém, os dados estatísticos dos pardos engrossam as fileiras das estatísticas sociais das perdas dos negros. A partir desta estratégia vêm as consequências: os pardos não são negros o bastante para ser beneficiados com os programas voltados para os negros, mas são negros o bastante para engrossarem as estatísticas de perdas dos negros. Acredito que esteja na hora de fundar o movimento social dos pardos e morenos, e a partir desta luta instituir programas específicos voltados para pardos e não-pardos com ausência de rede social de proteção.
Essa ideia de dividir o país em raças é uma ideia malsã, porque, além de acirrar a discriminação, obriga o outro a ser aquilo que ele não quer ser. O Brasil é marcado pela miscigenação, pelo pluralismo, pela diversidade cultural, pela tolerância, não obstante o racismo e os preconceitos narrados em estereótipos e piadas maldosas sobre os negros(as). Raça é uma concepção perigosa, pode tornar se segregacionista. Reduz o indivíduo, ignora a identidade cultural, a pluralidade e a complexidade social. Ser educado para a diversidade étnica seria o ideal. Que Oxalá nos abençoe!
(*) professor