ARTICULISTAS

Uberaba, outubro de 1968

Há quarenta anos, em outubro de 1968, o movimento estudantil sofria o seu maior revés.

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 17/12/2022 às 03:51
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Na chuvosa manhã de sábado do dia 12, a polícia invadiu o sítio Murundu, em Ibiúna, cidade distante setenta quilômetros de São Paulo, pondo fim ao XXX Congresso da UNE que ali se realizava.

Com tanta agitação nas ruas, com tantos confrontos entre estudantes e militares, a UNE tentou articular o seu XXX Congresso Nacional na mais absoluta clandestinidade.

Em tempos tão vigiados, não seria fácil manter clandestino um evento que reuniria mais de setecentos estudantes oriundos de todo o País. Ainda mais numa cidade pequena, onde a menor agitação seria facilmente percebida.

O fato é que a repressão cerca e invade o referido sítio e prende as principais lideranças do ME nacional. Por terem seus principais líderes presos, os estudantes fazem eclodir em várias cidades brasileiras manifestações de protestos contra os acontecimentos em Ibiúna.

Em Uberaba, esses protestos aconteceram e foram violentamente coibidos. Numa carta endereçada ao povo da cidade, os estudantes relataram que houve uma convocação de todas as lideranças estudantis e de todo o clero uberabense para uma reunião no 4º BI, que, segundo o documento, tinha por objetivo boicotar outra reunião, que havia sido marcada na Igreja São Domingos. Nesse encontro se discutiria o que fazer para libertar os estudantes uberabenses que haviam sido presos em Ibiúna.

Segundo o texto histórico, o pátio da Igreja foi cercado e, posteriormente, invadido pelos órgãos de repressão da ditadura militar, que tentavam impedir que os estudantes uberabenses se reunissem.

De acordo com o relato dos estudantes, o clima de terror chegou a tal ponto que ninhos de metralhadora foram instalados na Praça Rui Barbosa e na porta das faculdades. Ainda nessa carta, os estudantes aproveitaram para denunciar um fotógrafo que trabalhava para um órgão de imprensa da cidade e que se negou a fotografar as armas utilizadas pela polícia para coibir as manifestações estudantis.

Vicente Paula Cunha Braga, então estudante de Direito, foi ao XXX Congresso representando o DCE de Uberaba. Ele relembra o episódi estive em Ibiúna representando o DCE de Uberaba. Foi o último suspiro do ME nacional. Dizem que a polícia e o exército já sabiam do local escolhido pelos estudantes para a realização do encontro. Eles esperaram as lideranças se reunirem e prenderam todos. Fomos mandados para o presídio Tiradentes e, depois, fomos enviados para nossos estados de origem.

Outro estudante uberabense que esteve em Ibiúna foi Gildo Macedo Lacerda representando o Diretório Acadêmico do curso de Economia da UFMG. Gildo foi a Ibiúna acompanhado de José Carlos Mata Machado. Por conta da sua prisão no Congresso, foi expulso da UFMG e entrou, a partir daí, na clandestinidade.

Falar da vida clandestina desses estudantes é importante porque, clandestinos, comporiam a última diretoria da UNE, que atuou até meados de 1970. Depois disso, as manifestações estudantis tornaram-se praticamente nulas. Alguns daqueles estudantes lutaram contra a ditadura militar de diversas outras maneiras. Outros aderiram à luta armada.

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