ARTICULISTAS

Trinta e Dois Anos

Meu pai era um homem que lia muito

Maria Aparecida Alves de Brito
Publicado em 05/07/2014 às 17:36Atualizado em 19/12/2022 às 07:01
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Meu pai era um homem que lia muito. Gostava de ler Seleções do Readers Digest. E foi em um desses exemplares que encontrei um artigo escrito por Rosa Maria Sarda, com o títul Vai a violência acabar com o nosso futebol? A revista é datada de 1982, e por aí se constata que essa violência nos estádios e fora deles não é de hoje que acontece. Em uma partida em Três Corações, entre time da casa e o Ateneu de Montes Claros, as duas torcidas se envolveram numa brutal pancadaria que o árbitro teve de encerrar o jogo doze minutos antes do seu final. O saldo foi um torcedor morto e outros tantos pisoteados. No Maracanã, no final de uma partida entre Vasco e Flamengo, outro torcedor foi morto com um tiro no pescoço. Em Volta Redonda, o árbitro teve que deixar o campo num camburão da Polícia Militar, para fugir da ira da torcida. Desde essa época muitas são as tentativas para explicar tamanha violência entre torcedores. Alguns estudiosos entendem que a violência nas arquibancadas é reflexo da violência que acontece dentro de campo e que vem atingindo níveis de verdadeira selvageria. Em entrevistas, alguns jogadores dizem que o motivo é atingir o adversário, não se importando em comprometer sua carreira para sempre. Em outra ocasião, no Estádio do Mineirão, numa partida entre São Paulo e Atlético Mineiro, Ângelo, numa disputa de bola com Neca, foi atingido na perna esquerda e, já caído, foi pisoteado por Chicão. Teve fratura múltipla (tíbia e perônio), ficando 217 dias sem jogar. O jogador Serginho, do São Paulo, que atingiu a perna do bandeirinha Vandevaldo Rangel, abrindo-lhe uma ferida de 10 cm, foi expulso de campo, processado e julgado. Ficou suspenso por 14 meses (essa foi a maior suspensão já aplicada a um jogador brasileiro). Reinaldo, jogador do Clube Atlético Mineiro, fala com conhecimento de causa, pelas inúmeras contusões que sofreu, sobre os árbitros aplicarem medidas disciplinares mais duras contra jogadores violentos. Garrincha, um dos mais extraordinários atacantes que o Brasil já teve, percorreu campinhos de futebol dos subúrbios do Rio de Janeiro, ensinando a garotada que futebol é uma arte e deve prevalecer sobre a violência. Não surtiu efeito. Até hoje a violência continua, com o agravante das gangues que se formaram e que são proibidas de frequentar os estádios em diversos países do mundo, caso dos torcedores ingleses, argentinos e muitos outros. O jogador da Seleção Uruguaia mordeu o ombro do jogador da Seleção Italiana e, julgado, recebeu por parte da Fifa a ridícula suspensão de nove jogos sem disputar. Comentaristas do Brasil acharam a sanção severa demais (sem comentário). O fato é que tanto um jogador que aplica uma cotovelada no rosto de outro quanto o que dá uma mordida, além de uma penalidade mais severa, deveriam ser encaminhados para um tratamento sério, pois essas atitudes não são próprias de um ser humano normal.

(*) Pedagoga, Especialista em Educação Especial

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