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Tributo a um homem que venceu preconceitos

Muitos são os obstáculos que surgem quando se propõe a alcançar um objetivo

Valdemar Hial
Publicado em 07/01/2015 às 19:38Atualizado em 17/12/2022 às 01:57
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Muitos são os obstáculos que surgem quando se propõe a alcançar um objetivo.

Podemos citar vários exemplos de quem venceu e de quem desistiu no primeiro tropeço. Lembro-me de uma música de um dos maiores cientistas do Brasil e quiçá do mundo, na área de Zoologia - Paulo Vanzoline. Formou-se médico pela USP e, posteriormente, tornou-se Doutor em Zoologia pela Universidade de Harvard (USA). A música intitula-se “Volta por Cima”. Na letra, escrita em 1959, Vanzoline diz em um determinado trecho da letra: “Um homem de moral não fica no chão/ nem quer que alguém lhe venha dar a mão/ reconhece a queda e não desamina/ levanta, sacode a poeira e dá volta por cima”.

Por que citei Vanzoline? Porque vou falar de uma pessoa, também homem de Ciência, que deu a volta por cima.  Trata-se de João Batista de Sousa. Ele formou-se na nossa querida FMTM (UFTM) em 1980, turma que tive a honra de paraninfar. Porém, para conseguir esse diploma, ele teve que vencer várias barreiras.

Costumo dizer que o idealista não enxerga obstáculos, sabe o que quer, persegue o que quer e consegue o que quer.

O João sabia o que queria, fez o curso supletivo e em seguida foi aprovado no vestibular da FMTM (UFTM), mas faltava-lhe uma matéria que ele não havia concluído nesse curso e assim, não aceitaram sua matrícula. Não desistiu, completou no ano seguinte a matéria que faltava e, novamente, foi aprovado no vestibular. Precisou ser aprovado em dois vestibulares para valer um.

O Dr. João é afro-brasileiro e tendo sofrido preconceitos, que não vem ao caso citar, não se abalou. Seu pai era caseiro numa chácara no perímetro urbano de Uberaba - homem humilde, honrado e trabalhador.

A turma do João foi a primeira que lecionei após meu regresso dos Estados Unidos. Naquela época, tendo-me tornado o primeiro professor titular por concurso público da FMTM/UFTM e já um pesquisador com experiência internacional, vários alunos me procuraram a fim de trabalhar na Disciplina de Bioquímica como monitores. 

Nas aulas, como se faz até hoje, passávamos alguns exercícios para discussão. Eis que de repente, para resolver um deles, o João se propôs ir até o quadro de giz. Todos na expectativa, pois se tratava de um exercício de difícil resolução. João o resolveu, mostrando grande conhecimento do assunto. Estava selado, naquele momento, uma relação professor–aluno que se estenderia por quatro anos, tendo sido por mim convidado para ser monitor na nossa disciplina. Que honra tê-lo como discípulo. Dali por diante, o João foi vencendo todos os obstáculos. Tornou-se um grande professor e pesquisador, chegando a diretor-clínico do Hospital Universitário de Brasília, vice-reitor da Universidade de Brasília e agora, secretário de Saúde do Distrito Federal.

Tributo ao Prof. Dr. João Batista de Sousa que não precisou de cotas para chegar aonde chegou.

(*) Membro titular da Academia Mineira de Medicina e professor Emérito da Universidade Federal do Triângulo Mineiro-UFTM

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