Tenho profunda admiração pela pessoa que foi o escritor Mário Palmério. Sempre o admirei, bem como acompanhei, também com admiração, muitos fatos ocorridos na nossa Academia Brasileira de Letras. A ABL, do Brasil e do Rio de Janeiro, a famosa Academia, cuja sede nos foi doada pela França, um presente lindo, réplica perfeita do “Petit Trianon” do Palácio de Versailles.
Depois que aprendi a ler, ao andar de carro pelas ruas do Rio de Janeiro, meu avô materno testava minha capacidade e minha velocidade de leitura me mandando ler letreiros fixos em prédios. Certa ocasião, ao passarmos em frente à Academia, li o que estava escrito na fachada do belíssimo prédio, o que foi motivo de gargalhada para ele. Não sei bem por que, resolvi colocar um acento agudo sobre o “e”, e li “Acadêmia Brasileira de Letras”.
Já adulto, fiquei muito feliz quando meu tio Américo Jacobina Lacombe entrou para a nobre casa. Foi um grande jurista, historiador, presidente da “Casa de Ruy Barbosa” durante muitos anos, autor de vários livros. Mas o livro que mais admirei não foi escrito por ele, mas sim por Mário Palmério. Eu ficava irritado quando saía para trabalhar e tinha que abandonar a leitura de “O Chapadão do Bugre”. Miguel, meu irmão, e uma grande amiga, Maria Júlia Temer Goldwasser, curtiam mais o “Vila dos Confins”.
Quando fui convidado, na segunda gestão do prefeito Hugo Rodrigues da Cunha, para assumir a Secretaria do Planejamento, pedi ao meu amigão, Germano Gultzgoff, o russo, que me levasse à casa de Palmério. Disse-lhe que eu era sobrinho de Américo, colega de Academia do escritor. Batemos longo papo e ele acabou me dedicando um “Chapadão” e um “Vila” para a Maria Júlia.
Depois de meu desentendimento com Hugo, que evidentemente gerou um chute em minha traseira, entrei para a Uniube, onde dei aulas de paisagismo e de planejamento urbano no Curso de Arquitetura e Urbanismo. Algum tempo depois, fui patrono das primeiras turmas de formandos nos anos em que lá estive. Numa festa de formatura, em que o governador de Minas Gerais foi o paraninfo, fiquei perto de Palmério, na mesa do reitor, dos paraninfos, patronos e homenageados, colocada à frente do palco no Cine Metrópole, local da solenidade. O professor tinha convidado um conjunto musical para, durante a cerimônia, tocar suas guarânias, e eu, com meu espírito jocoso, após a execução de uma delas, bati-lhe nas costas e lhe disse: “Professor, de quem é essa ‘modinha’?” Ao que ele me respondeu, evidentemente um pouco “rempli de soi-même”, batendo com a mão no peit “Do papai aqui!”.
Tive muita pena quando alguém levou furtivamente o meu “Chapadão”, mas eu gostava, acima de tudo, da figura do professor Mário Palmério.