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Reflexões

Percorrendo nestes dias alguns velhos números de nosso – “nosso” quer dizer “da Arquidiocese” – jornal mensal Compasso, encontrei a notícia de um assalto aqui na nossa cidade de Uberaba

Dom Benedicto de Ulhôa Vieira
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 12:37
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Percorrendo nestes dias alguns velhos números de nosso – “nosso” quer dizer “da Arquidiocese” – jornal mensal Compasso, encontrei a notícia de um assalto aqui na nossa cidade de Uberaba. Eram quatro homens armados que assaltaram uma empresa no dia de pagamento. Comumente há repulsa natural e justa a um crime desta natureza, que não foi o único, pois isto se repete muitíssimas vezes, quase todos os dias.

Numa sociedade capitalista como a nossa, há mais repulsa a um crime contra o patrimônio ou contra os Bancos do que contra a vida, como é o crime do aborto. Há muita gente importante na nossa sociedade querendo até a “legalização” do aborto, sob o sofisticado pretexto de assim coibir a clandestinidade deste crime.

Nos ambientes pensantes de nossa sociedade, é comum condenar o ladrão que assalta, nunca o médico que realiza o aborto. Necessário interrogar a nossa consciência para julgar qual dos crimes é maior: tirar a vida inocente ou roubar o dinheiro?

Certa vez – foi em Conquista-MG – numa Missa, cuja celebração eu presidia, uma menina de uns nove anos apresentou no microfone as intenções. E, de repente, fez este espantoso pedid “Que as crianças tenham sempre saúde e não passem mais fome!”. Teria ela sentido a dolorosa experiência da fome ou teria apenas sido tocada pela necessidade de outras crianças?

Na visita que o saudoso Papa João Paulo II fez à nossa Pátria, lá no Piauí, rezou a Deus, vendo provavelmente o que viu: “Pai, o povo passa fome!”. Teve-se na época a impressão de que o Santo Padre teria sentido necessidade de informar a Deus o que estava vendo, como se Deus precisasse ser informado.

Um velho recorte de jornal – não sei a data – registra que, num assalto, revólver em punho, o assaltante, ao encostar a arma no funcionário, disse estar fazendo aquilo “porque meus filhos passam fome”. Uma afirmação como esta, embora não justifique o roubo nem o pode fazer, traz uma angustiosa reflexão para a sociedade.

Estas considerações e casos são aqui expostos para refletir: a fome, o assalto, a violência e a vida. São os fatos diários que os jornais registram para todos. Há solução?

 (*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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