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Diretor, ator, produtor, Charles Chaplin, o genial Carlitos do cinema, deixa-nos uma bela lição em Luzes da Ribalta. O filme, conhecido como uma reflexão angustiada e pungente sobre o fracasso

Mário Salvador
Publicado em 25/08/2009 às 21:09Atualizado em 20/12/2022 às 10:58
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Diretor, ator, produtor, Charles Chaplin, o genial Carlitos do cinema, deixa-nos uma bela lição em Luzes da Ribalta. O filme, conhecido como uma reflexão angustiada e pungente sobre o fracasso, merece ser visto de forma crítica, mas com o respeito que histórias universais sempre inspiram.

Nesse clássico do cinema, um comediante em declínio ressalta a inutilidade das lágrimas derramadas por questões que elas não podem resolver. A versão para o português da letra da canção tema do filme convida-nos a refletir sobre a inutilidade de ficarmos remoendo o passad “Para que chorar o que passou, lamentar perdidas ilusões, se o ideal que sempre nos acalentou renascerá em outros corações?”.

É fácil compreendermos um sentimento coletivo de nostalgia. Porém o caboclo, com sua perspicácia e seu modo especial de encarar os problemas, assim explica a situação mencionada na letra da música: “Não adianta chorar o leite derramado.” E amplia esse raciocínio, dizendo que “o que passou, passou” e vamos tocar a vida, vivendo o presente e semeando para o futuro. O verdadeiro caboclo é sempre um poeta otimista. Com sua veia artística e sua perspicácia, escreveria um bom livro de autoajuda, se quisesse.

A todo momento ouvimos pessoas mais velhas resmungand “No meu tempo...” Entretanto, de nada adiantam as queixas amarguradas que sempre ouvimos (e que, quem sabe, às vezes deixamos escapar), pois nada resolvem e nada criam, além, provavelmente, de um ambiente pouco propício à conversação.

Todos experimentamos momentos raros de oportunidades: um bom emprego, uma boa viagem, uma possibilidade de estudos, o surgimento de uma boa e duradoura amizade e outros instantes especiais em que a vida parece um paraíso. Entretanto, como ensina uma propaganda veiculada atualmente na mídia, não sabemos de antemão que consequências cada escolha nossa pode acarretar. É por isso que algumas vezes optamos por deixar as oportunidades passarem sem que as aproveitemos.

A sabedoria popular retoma a poesia que a vida perdeu e trata metaforicamente essa indefinição existencial com a expressão “deixar passar o cavalo arreado sem o montar”. E de nada adiantam futuras lamentações: “Se eu soubesse...”, “se eu tivesse feito isso...” Nem ameaças; o tempo não aceita barganhas.

Remoer, resmungar e recordar momentos difíceis são atitudes que só atrapalham o agora. Às vezes, para que se abram caminhos melhores na vida, chutamos o balde. Mas é bom que ele não esteja cheio de leite, pois haverá sempre um chorinho pelo que foi derramado.

O que importa é que o nosso tempo é agora. Precisamos atuar em cada situação com toda a intensidade possível, nem que seja esse o nosso último espetáculo sob as luzes da ribalta.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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