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Partilhar a refeição

A palavra partilha está relacionada com o sentimento de identificação existente entre duas ou mais pessoas

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 03/05/2019 às 20:46Atualizado em 17/12/2022 às 20:27
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A palavra “partilha” está relacionada com o sentimento de identificação existente entre duas ou mais pessoas. É sentimento porque supõe iniciativa de dentro para fora. Constitui um caminho contrário daqueles que têm atitudes egoístas e querem tudo para si mesmos. Não conseguem enxergar as necessidades principalmente prementes dos outros e acabam não partilhando o que é possível. 

Muitas negociações e iniciativas positivas, para o bem ou para o mal, acontecem nos momentos de refeição, em volta de uma mesa. Foi o que aconteceu com Jesus. Estando Ele com os apóstolos para uma refeição, na partilha do pão e do vinho, Judas Iscariotes é identificado como um traidor. Jesus disse: “Aquele a quem eu der um pedaço de pão passado no molho” (Jo 13,26) vai me trair.

No período dos quarenta dias pascais, tempo em que Jesus se manifesta e confirma para os discípulos a sua ressurreição, em vários momentos aconteceu o gesto da partilha. É o caso da pesca milagrosa (Jo 21,1-19), onde se realiza também uma refeição e, em volta da mesa, Jesus convoca o pescador Pedro para partilhar seus dons e assumir a tarefa de apascentar o rebanho do Senhor.

Existe muita gente que passa fome nas diversas nações do mundo. Não podemos simplesmente dizer que é por falta de alimento. A terra é muito generosa em todos os lugares, como um verdadeiro dom de Deus. Basta que haja incentivo e oportunidade para as pessoas plantarem, que os frutos aparecem abundantemente. Talvez falte uma globalização de partilha da refeição!

O anúncio de Jesus Cristo dava prioridade para a dignidade das pessoas. Ao falar de fraternidade, de acolhida, de comunidade, Jesus estava falando de partilha. As primeiras comunidades cristãs entenderam perfeitamente sua proposta. Distribuíam entre todos os bens que tinham (At 2,42-47) e ninguém passava necessidade. Na partilha fraterna, o pouco se torna muito e supre as necessidades.

Para não ser interpretado como um fantasma ou uma ilusão, Jesus ressuscitado comia com os discípulos, confirmando para eles que estava vivo e presente no meio deles. Ele tinha um gesto claro de partilha e desejo de que todos pudessem viver com dignidade. O acúmulo desnecessário e egoísta impede que a partilha aconteça e, facilmente, provoca atitudes de injustiça e gera fome. 

(*) Arcebispo de Uberaba

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