Como todo mundo, anseio pelo final da situação caótica que estamos vivendo com a pandemia provocada pelo coronavírus. Na proporção em que o problema diminui, voltamos aos poucos à rotina de indústrias funcionando, comércio aberto, trânsito nas ruas, volta às aulas, novidades em noticiários...
Ainda falta muito para o quadro se normalizar. E a pandemia só terá fim com a contribuição de todos, mesmo que isso signifique ficar em casa, no aconchego do lar, às vezes vivendo a angústia da perda do emprego e da falta de suprimentos, e testando novas formas de prover a família nesta crise.
Enquanto isso, o gari limpa ruas; o coletor recolhe nosso lixo (inclusive lixo infectado); policiais e bombeiros cumprem sua missão. E médicos, enfermeiras e ajudantes, às vezes até privados do equipamento de proteção individual adequado (causa de muitos profissionais terem sido infectados), se rendem ao sono em corredores de hospital, absolutamente exaustos por horas excessivas atendendo e salvando os pacientes infectados pelo vírus.
Como passatempo na pandemia, li sobre tragédias que atingiram a humanidade em “As 100 Maiores Catástrofes da História”, de Stephen J. Spignesi. Segundo o autor, a China, com três eventos no século XIV – um surto epidêmico, fome e seca –, somou nove milhões de mortos. E a Segunda Grande Guerra (1939 a 1945) fez oitenta e cinco milhões de mortos. (Aos 99 anos, um ex-pracinha dessa guerra acaba de celebrar sua cura da Covid-19.)
Se um clube de futebol vence um torneio ou a Seleção Brasileira de futebol vence a Copa, torcedores fazem passeatas e carreatas. Não raro, os times vencedores desfilam no caminhão do Corpo de Bombeiros. Com o fim da pandemia, imagino, sobre os caminhões de carreatas, um time de heróis: aqueles que atuaram mais diretamente no combate à pandemia – cada abnegado médico, enfermeiro, atendente e ajudante de hospital, gari, coletor de lixo, policial, bombeiro e demais profissionais que se dedicaram a salvar vidas ou nos deram suporte para um mundo limpo e ordeiro. Mas essas manifestações seriam modestas diante do que fizeram aqueles que, pelo bem de todos, se expuseram diretamente aos riscos do coronavírus. Mais que aplausos, carreatas, passeatas e outras homenagens, nossos heróis merecem ver o prêmio desse trabalho no próprio holerite. Se temos recursos para isso? Temos muito! Salários e regalias de nossos políticos são a prova disso.
Agora, cabe aos políticos, que ficaram em casa durante a pandemia, a prova do reconhecimento do trabalho de nossos heróis. E, embora os políticos tenham se lembrado de reduzir o salário do trabalhador (evitando o aumento do desemprego), não fizeram o óbvio para minimizar a crise, pois continuaram, eles próprios, recebendo integralmente os vultosos vencimentos e benefícios – receosos de que o povo se lembrasse disso. Em momento algum cogitaram mexer no próprio vencimento. Agora é esperar para ver se mudarão essa história e, ainda, se farão justiça aos nossos verdadeiros heróis. Ainda há tempo.
Mário Salvador