Estamos na era das incertezas? A partir do início do século XX, ocorre algo de realmente...
Estamos na era das incertezas?
A partir do início do século XX, ocorre algo de realmente revolucionário no campo da ordem e da certeza: é o surgimento da desordem e da incerteza. No entanto, como reação a esse mundo cada vez mais complexo, as ciências continuam a compartamentalizar ou departamentalizar as informações, de maneira cartesiana, o que as impede de desenvolver uma compreensão global. Nesse sentido, Morin acrescenta que “contextualizar e globalizar são os procedimentos absolutamente normais do espírito e, infelizmente, a partir de certo nível de especialização, que passa a ser o da hiperespecialização, o fechamento e a compartimentação impedem contextualizar e globalizar”. Qual a saída para isso? O pensamento complexo seria sair da área de especialidade e trabalhar em grupo, humildemente, reconhecendo que ninguém pode mais trabalhar sozinho. Nas diversas áreas, os teóricos reconhecem essa necessidade e precisam trabalhar não só dentro do campo de suas especialidade, mas, a partir delas, interagir com outras áreas, pois o conhecimento humano é um todo, é mais do que a mera soma de suas partes.
Segundo Edgar Morin, o pensamento complexo procura trabalhar entre a certeza (convicção, convencimento, confiança) e a incerteza (dúvida, excitação, indecisão, imprecisão). Não existe mais “fundamento único, último, seguro do conhecimento”. E, com essa necessidade de interação, o trabalho agora deve operar-se em grupo, e não mais apenas individualmente.
Nesse contexto, o pensamento complexo não visa simplesmente a substituir o antigo pensamento racionalista, determinista. Não se trata de recair no irracionalismo. É necessário evitar o racionalismo, o idealismo, o doutrinarismo. E sim diferenciar, unir: “O pensamento complexo é o pensamento que se esforça para unir, não na confusão, mas operando diferenciações”. Assim, o pensamento complexo visa a transcender as fronteiras, os paradigmas. Trata-se de estimular a comunicação entre áreas até então separadas.
O fim das certezas acarreta a necessidade maior de humildade, de ampliação do próprio conhecimento, rumo a uma erudição mínima, e o trabalho em grupo. Para trabalhar em grupo, é preciso partir da própria pesquisa individual, mas como maneira de se inserir no diálogo com o outro, com colegas de outras especialidades.
Trata-se de um novo conceito de conhecimento, e de racionalidade, mais aberto, mais plural, mais inclusivo.
E, na política, tem-se certeza de quê?
Estamos na era das incertezas políticas?
(*) Psicóloga Clínica