Já morei em uma casa com um quintal enorme, que, além de árvores, tinha um galinheiro...
Já morei em uma casa com um quintal enorme, que, além de árvores, tinha um galinheiro. Eu passava algum tempo alimentando e observando as galinhas, sempre barulhentas e festivas. Só mesmo quando anoitecia que corriam para o poleiro e lá ficavam quietinhas, dormindo. Lembro-me que ri muito quando elas foram enganadas por um eclipse de sol e, em plena tarde, empoleiraram-se, como se já fosse noite.
Ordem no galinheiro, expressão que clama por alguma lógica, é o que está em falta na política brasileira do troca-troca de partidos. A permissão que foi dada aos senhores membros de cargos eletivos para trocarem de legenda, sem perder seus cargos, aprofundou o já clássico descompromisso dos eleitos com seus eleitores. Pensem comigo. Votei em um vereador ou deputado de um partido que, como eu, não comungava com bordões e práticas petistas ou comunistas. De repente, esse meu representante muda de lado, sem me consultar, e passa a fazer parte de um partido que compõe a base aliada do governo petista, que não aprovo. Sinto-me órfã. Sem representação. Onde ficam a coerência, o respeito e o compromisso?
A política virou um fim em si mesmo. Valem apenas os conchavos, os falsos apertos de mãos, as reuniões às escondidas. O eleitor é um mero detalhe, fácil de enganar com propagandas e promessas. O objetivo dos nobres membros dos poderes Legislativo e Executivo é se manter no Poder, não importando de que forma for. Dizem, a seu favor, que se vota em candidato e não em partido. Se assim fosse, para que existiriam os partidos e o cobiçado Fundo Partidário? E, ainda, por que a filiação é obrigatória para concorrer a qualquer cargo eletivo? É notório que existem partidos de aluguel para viabilizar candidaturas. Não é difícil, já que no Brasil são 35 partidos registrados, muitos deles perdendo sua identidade, com diretórios loteados e presididos por pessoas que não se encaixam, nem comungam com suas diretrizes básicas. Comércio descarado de falsas ideologias. O mínimo que se pode exigir de um eleito pelo voto popular é coerência, já que outros requisitos não lhe são cobrados. Institucionalizar essa troca partidária é dar um tapa na cara dos eleitores. Fico boquiaberta assistindo a um bando de excelências ciscando oportunidades de se elegerem, princípios, valores e compromissos à parte. Precisamos de um eclipse total para pôr ordem no galinheiro, que, sozinho e sem pressão, vai continuar no caos, facilitador de tantas falcatruas e hipocrisia.