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Obama e a sociedade pós-racial

A maioria americana, ao eleger Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, fez do 5 de novembro um marco histórico no processo civilizatório.

Gilberto Caixeta
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 17/12/2022 às 04:00
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A maioria americana, ao eleger Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, fez do 5 de novembro um marco histórico no processo civilizatório.

Os Estados Unidos, século XVI, são um desdobramento da empresa ultramarina e a sua ocupação territorial, uma decorrência à intolerância religiosa britânica com os puritanos calvinistas, que buscaram refúgio em outros continentes. Era a época da acumulação primitiva de capitais e da ética capitalista calvinista, em contraste aos ensinamentos católicos, do sistema escravocrata, do colonialismo, do genocídio das populações nativas. Assim se inauguram os tempos modernos.

No século XVIII, os idealizadores da independência americana puseram em pergaminho o ideal da liberdade e o da igualdade, sem que elas acobertassem os negros. Foi com a guerra civil, entre escravagistas e libertários, que os Estados Unidos libertaram os escravos mantendo o preconceito e a exclusão que aprofundaram o fosso racial ao não permitir que negros desfrutassem do mesmo espaço coletivo com os brancos.

A década de 1960 foi para milhões de jovens ocidentais uma época de explosão no pensar e no agir, com repercussões das mais variadas. O jovem americano, por exemplo, ao contestar a Guerra do Vietnã, os padrões conservadores da família tradicional e o racismo, serviu para a expansão de idéias de uma sociedade livre de guerras e de preconceitos.

A marcha dos direitos civis dos negros compõe o caldo cultural da época inundando as ruas americanas, com mortes e conflitos em prol de políticas públicas que favorecessem afirmativamente o afro-americano. O que a lei fez no papel não fará nas consciências e o ódio racial ou a conduta étnica permeará todos os aspectos da vida americana, inclusive a igreja calvinista e luterana. A política de cotas para negros não arrefecerá os conflitos étnicos nos Estados Unidos da América.

A campanha de Barack Obama foi genial, marcada por determinação pessoal, preparo intelectual e história pregressa. Mas nada disso adiantaria se não houvesse a genialidade do candidato, que, ao se apresentar aos eleitores, não negou a ferida racial, mas não se posicionou como negro, e sim como um ponto de consciência da convergência para a superação das dificuldades americanas. Obama mostrou aos americanos os equívocos da guerra e conclamou a todos a responderem positivamente a crise financeira. Postou-se como líder equilibrado, fraterno e duro com os equívocos históricos, inclusive os seus, e rompeu com o pastor radical de sua igreja.

A importância da vitória de Obama está não é só porque ele é negro, mas porque soube fazer de sua mestiçagem étnica uma confluência de idéias renovadoras, instituindo a sociedade pós-racial, mobilizando eleitores pobres, negros e brancos, jovens e velhos em torno da mudança possível, a partir de cada um, sem se esquecer da diversidade cultural.

Particularmente, guardo os meus temores quanto à conduta dos adversários; não de MacCain, que deu exemplo de grandeza, principalmente dos revisionistas da história.

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