ARTICULISTAS

O sincericídio

Dia desses me foi apresentada a palavra sincericídio

João Eurípedes Sabino
forumarticulistas@hotmail.com
Publicado em 30/05/2014 às 20:05Atualizado em 19/12/2022 às 07:33
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Dia desses me foi apresentada a palavra sincericídio. O autor do texto que li me clareou a mente e com isso achei o termo certo que nomeia, em resumo, quem fala “o que vem à boca”. Quem nunca deixou escapar uma palavra ou expressão que, depois de ditas, o dono daria tudo para não tê-las fluido?

Anotei no texto lido que sincericídio é: “quando a pessoa fala o que pensa, mas em momento e circunstâncias impróprias”. Quem comete o sincericídio, portanto, é o sincericida. Dá para estabelecer uma correlação pouco simpática entre suicídio e o suicida. Desculpe-me o(a) leitor(a) a analogia. É que o sincericídio muitas vezes decreta a morte de quem o pratica, a médio ou a longo prazo. Aliás, o homem morre não pelo que entra pela boca, mas pelo que sai dela, diz o ditado.

O sincericida carrega consigo algo intrínseco no seu perfil: fala sabendo que está sendo ouvido, logo se arrepende, mas aí é tarde. Eduardo Gomes, o brigadeiro, quando candidato a presidente da República, em 1945, deixou escapar certa frase que, distorcida pelos adversários, ficou assim: “Não preciso dos votos dos marmiteiros!” Ele, tido e havido como homem polido, não conseguiu resgatar o verbo dito e sua eleição desabou. Esse tem sido o destino dos sincericidas.

“Dar um tiro no pé”, “morder no arame”, “dar com os burros n’água”, “quebrar a cara” e outras metáforas são usadas para rotular os sincericídios que cometemos. As autoridades, essas sim, correm alto risco de cometê-los, porque, empolgadas, muitas vezes lançam ao ar suas palavras sem que ninguém as interpele. Depois vem o prejuízo e aí ...

Não podemos nos esquecer de que a torcida está de plantão e, quando incorremos no sincericídio, fatalmente somos bombardeados pela massa. Às vezes, não caímos no momento, mas a nossa queda passa a ser iminente.

Nós, que manipulamos a escrita ou temos um microfone às mãos, somos obrigados a exercer o ofício de nos expressar com prudência. Os processos indenizatórios por danos morais estão aí e uma palavra não dita pode ser palavra bendita.

E, concluind o que faz o céu da boca virar um inferno são exatamente as palavras que passam por ele.

(*) PRESIDENTE DO FÓRUM PERMANENTE DOS ARTICULISTAS DE UBERABA E REGIÃO, MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS DO TRIÂNGULO MINEIRO

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