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O seu Mig

Minhas crônicas são escritas na inspiração da véspera. Não acho nem tenho tempo e arte para programá-las. Com isso, fica às vezes muito apurado quando descubro que está na hora

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 12:21
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Minhas crônicas são escritas na inspiração da véspera. Não acho nem tenho tempo e arte para programá-las. Com isso, fica às vezes muito apurado quando descubro que está na hora e dia. A Lidia, aqui, e o Ivan, em Uberlândia, vão pensar que morri ou esqueci (prefiro a segunda hipótese). Pois é, como costumo dizer, Deus é meu sócio e me acode gratuitamente, outra coisa que aprecio. Hoje e agora, isso aconteceu: cheguei na boca da noite, tenho que escrever agora, porque de manhã tenho que trabalhar. Por sorte, não dependo do salário jornalístico, o que me obrigaria a comer braquiaria. Porém, aprecio amizades e compromissos; daí ficar pensando no assunto desta crônica. Foi aí que Deus me deu um ajutório, como diria o Geraldino Goian chegando em casa, encontro falta de força e luz, felizmente só pela metade. Pode ser a tal de fase. Olho pra cima e a fase é de lua cheia, não sei por que o acontecido. Será que deixei de pagar a conta de lua? Bem, o Cláudio trabalha comigo há vinte anos, cozinha, vê o futebol e dá-me os resultados, guia meu carro para todos os socorros, enfim, aqui em casa ele é mais útil que eu. É ele que me acode e explica: doutor, a tal fase é de energia elétrica, o senhor chama e explica na Cemig. Não passo recibo, faço-me de importante, pego o catálogo telefônico e procuro o tal seu Mig, que o Claudio traduz: Cemig. Caramba! Tem um monte de telefones, como tudo o que é importante neste Brasil. Vou chamando de cima pra baixo. Tem número que já não é do seu Mig, tem música tocando e uma acolhedora voz feminina que diz: meu bem, aqui não é mais Cemig, mas sabe, né? Sei de nada não, eu quero é o seu Mig. Aí, na quarta chamada, atende uma voz feminina, esta bem séria, e me avisa que o seu Mig que eu procuro é no número 116. Mais fácil, este eu decoro e disco. Atende-me uma voz bem masculina, que logo pergunta do que se trata. Explic tenho problema na minha iluminação, preciso do seu socorro. O moço despacha, pedindo meu nome completo, o número da minha conta, do CPF etc. — esqueceu-se da data de vacinação. Quando deu pausa, perguntei-lhe o nome. Ele disse que era apenas funcionário e que eu lhe desse as informações pedidas. Aí comecei a explicar que a casa ainda não está no meu nome nem a conta nem o CPF do antigo proprietário, que eu ignoro. Delicadamente, disse-lhe que tudo se esclareceria na hora do socorro e pedi o nome dele, por favor. Ele disse que é Ilton, apenas. Eu fiquei humilde: seu Ilton, todos estes dados estão lá no meu escritório central, vou procurá-los. E, aí, o tal Ilton, que já devia estar de saco cheio, desligou. Fui procurar as informações pedidas e chamei de novo o seu Mig – com medo do Ilton, outra vez. Dei sorte, pois me atendeu uma gentil voz feminina, por nome Larissa, que escutou e anotou tudo com paciência e disse que vai me socorrer. Pensei, vaidos eu dou sorte é com mulher! Mas nada, meu amigo. O que fica e quero dividir consigo é este final: a computação é um desastre; seus números, vozes, alternativas e personagens mataram o relacionamento e a inteligência dos mortais comuns. Concorda? Então, desligo!

(*) Médico e pecuarista

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