As mil belezas de tantas coisas de um tempo
As mil belezas de tantas coisas de um tempo não muito distante, já não existem mais. Em frente de quantas delas, ficamos contemplando e nos interrogando por que aquelas extasiantes belezas não mais são vistas nas coisas de hoje? A nossa interrogação mais se alarga, quando nos colocamos diante daqueles bonitos e laboriosos trabalhos de arte de ontem que ainda são contemplados nos Campos Santo. Argila e Bronze, marcados pelo rigor do tempo e intempéries diversas, guardam expressões tristonhas que o cinzel em mãos artísticas talhou o que o coração sentiu e quis dizer. Percebe-se que o sentido belo das coisas de ontem não mais encontra espaço no mundo atual, onde a criatividade se limita ao alcance de bonecos com caras de animais conhecidos, falando como se fossem gente, ocupando com terrível gosto, as telas da televisão brasileira. Como o mundo num espantoso acelerado, vem sem apelo se tornando um vazio de belezas? O que por certo aconteceu com os cinzéis que esculpiam maravilhas? O que foi feito do cinema, uma dentre as sete maravilhas do mundo, com filmes históricos, educativos e inesquecíveis? Lembro-me ainda. Quando eu cursava o ginasial, em uma prova de Historia da Civilização, me foi sorteado dissertar sobre o Cipião Africano. Como eu havia no cinema assistido a sua vida e os seus feitos, nada me foi tão mais fácil. Em quantos outros filmes, aprendemos fatos históricos. Era o cinema por vezes, extraordinário instrumento de ensino. O que aconteceu também, que perderam a linhagem doutras belezas? Das marchinhas carnavalescas de outrora, por exemplo? Eram simples composições que nos dias atuais, seriam um colosso ante as bobas, desconexas e pornográficas que escutamos. Na beleza simples daquelas do passado, enlaçados pelas serpentinas de mesclados matizes, incansáveis foliões de braços com outros incansáveis, explodiam alegrias nos salões repletos de; “Confete, pedacinho colorido de saudade,” confessando de forma alegre e jocosa: “Taí... Eu fiz tudo pra você gostar de mim...” Áureos tempos que a saudade não nos deixa esquecê-los. Como o mundo perdeu muito de seus encantos! Dentre as que se acabaram, pergunta-se também da profunda AVE MARIA de Franz Schubert, que nas catedrais pelas manhãs de todos os dias, acordava corações enchendo-os de paz e de esperança. Ao entardecer, de novo como comprimento, brindava ao homem pelo dever cumprido. Para algumas tantas coisas que se findaram, qualquer simples razão justifica o suficiente—mas para a AVE MARIA que não mais se ouve, somente uma razão maior responderá. De qualquer forma, lastima-se que as belezas de tantas coisas de ontem, já não mais se vê. A televisão que nos parecia substituir o cinema, hoje é um cesto de pregações religiosas, de aparelhos para ginásticas, de medicamentos milagrosos, de novelas com cenas mesquinhas sem nenhuma proibição, formando dia-a-dia, uma juventude sem líder, sem respeito, sem postura social, histérica e sem brio. Somente aquele que assistiu as belezas de ontem, sabe “O QUANTO SÃO FEIAS AS COISAS DE HOJE”
(*) Odontólogo; ex-professor universitário