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O Mártir da Revolução Francesa - Valdemar Hial

Tempo e viagem não me permitiram participar “al vivo” da comemoração ao Zote

Valdemar Hial
Publicado em 04/02/2015 às 11:07Atualizado em 17/12/2022 às 01:34
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O Mártir da Revolução Francesa

A revolução da liberdade, igualdade e fraternidade, apesar dos seus grandes ideais, cometeu uma das maiores injustiças com relação à ciência, atrasando, em anos, os avanços do conhecimento da química. Nos anos que antecederam a Revolução Francesa, nascia em Paris, em 26 de agosto de 1743, aquele que se tornaria o pai da Química Moderna- Antoine Laurent Lavoisier.

Entre as suas contribuições para a ciência, demonstrou que não há combustão sem a presença de um único elemento do ar, a que ele chamou de oxigênio. Lavoisier conduziu uma série de experimentos onde mostrou que a respiração era um processo similar à combustão, pois necessitava, também, daquele gás, ou seja, mostrou que a proporção de oxigênio no ar inalado era maior do que no ar exalado.

Esta foi a primeira demonstração da química da respiração. Juntamente com o astrônomo e matemático Pierre Laplace, em 1783, demonstraram que a água era composta de hidrogênio e oxigênio, estabelecendo as regras básicas das combinações químicas. Mostrou que a massa é conservada quaisquer que sejam as modificações químicas e/ou físicas que a matéria sofra: “Na natureza, nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”- Lei da Conservação das Massas ou Lei de Lavoisier.

Esse extraordinário cientista contribuiu, ainda, para o desenvolvimento humano em várias áreas, além da Química. Escreveu alguns livros que deram as bases da Química Moderna. Lavoisier deu mostras de um talento tão excepcional que aos 23 anos foi eleito para a Académie des Sciences. Porém, ao lado dessa revolução química, outra revolução estava em andamento – a Revolução Francesa. Lavoisier se viu, então, numa situação extremamente delicada.

Como químico fizera mais do que ninguém naquela época, mas tornando-se por herança independente financeiramente, passou à acionista de uma companhia particular que coletava impostos para o rei Luís XVI. O que lhe cabia desses impostos, Lavoisier utilizava em projetos científicos e humanitários. Em alguns países, os impostos, frequentemente, são utilizados para cobrirem os rombos da roubalheira.

Alguns anos antes, um ambicioso jornalista havia apresentado um artigo à Academia, na esperança de ser eleito para aquele egrégio sodalício. Coube ao acadêmico Lavoisier informar àquele senhor que seu artigo era desprovido de qualquer mérito científico. O jornalista sentiu-se profundamente insultado – Lavoisier havia feito um inimigo que não o esqueceria. O nome do jornalista era Jean-Paul Marat. Mais tarde, Marat chegou ao poder e o Terror imperou.

Arrumou um jeito de denunciar Lavoisier por ser cobrador de impostos no regime anterior. Embora Lavoisier apoiasse os objetivos iniciais da revolução, havia, em seu caminho, um jornalista frustrado na sua intenção de se tornar um cientista. Foi preso e levado a julgamento. Apesar dos apelos, mostrando o que ele representava para a ciência, o juiz, cujo nome faço questão de não citar, e que foi mais tarde guilhotinado pela própria revolução, o condenou à morte, retrucando que “a República não precisa de cientistas”.

Marat, logo depois, foi assassinado devido às atrocidades cometidas enquanto no poder.

Após Lavoisier ser executado na guilhotina, em 8 de maio de 1794, o matemático e companheiro de academia Joseph Louis de Lagrange declarou: “Num mero instante, aquela cabeça foi cortada, e talvez cem anos não nos deem outra igual”.

Membro Titular da Academia Mineira de Medicina, Doutor em Ciências e Professor Emérito da Universidade Federal do Triângulo Mineiro-UFTM.

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