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O Filho de Maria

Chama a nossa atenção o texto do Evangelho de São Marcos, no início do capítulo 6º, quando Jesus vai a Nazaré, cidade em que crescera, e começa a ensinar

Dom Benedicto de Ulhôa Vieira
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 12:53
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Chama a nossa atenção o texto do Evangelho de São Marcos, no início do capítulo 6º, quando Jesus vai a Nazaré, cidade em que crescera, e começa a ensinar na sinagoga. Todos o conheciam e, sabendo que não havia tido escola, admiravam-se de sua sabedoria. Onde teria Ele aprendido o que sabia e eloquentemente estava transmitindo?  Daí o estupor dos ouvintes.

É neste ponto que o evangelista mostra a admiração dos nazaretanos por ser Ele o “tekton” que o latim traduz por “faber”, isto é, quem trabalha com matéria dura. Daí a tradução portuguesa: “carpinteiro”. Como um carpinteiro sem estudo poderia falar tão desenvolvidamente!

É neste texto que insolitamente o evangelista usa a expressão “o filho de Maria”, ao contrário de Mateus (13, 55), que o chama de “filho do carpinteiro”, e Lucas (4, 22), “filho de José”. Com a expressão de Marcos – “Filho de Maria” – é provável que o evangelista quisesse fazer alusão à virgindade de Maria, pois é do uso bíblico comum designar só a filiação paterna. A exceção é, pois, de Marcos.

A expressão deste evangelista – “filho de Maria” – está mais que justificada no texto em que o primeiro dos evangelistas, Mateus, narra a origem de Jesus (Mt 1, 18-25), quando o anjo tranquiliza José, ao dizer-lhe que o fruto da concepção de Maria é algo de singular e miraculoso, pela ação do Espírito de Deus. O texto é singularmente belo e vale relê-lo para perceber que o Messias se liga ao rei Davi, através de José – “filho de Davi”. E, ao mesmo tempo, “por obra do Espírito Santo” é o Filho de Deus. A mariologia católica tem como único fundamento a palavra de Deus, como a lemos na Bíblia.

Os poetas, que sabem dizer as coisas sublimes da fé com palavras coloridas de beleza, sempre nos encantam, quando falam da Mãe de Deus. Ela “o chama seu filhinho, beija-lhe o rosto e a fronte acaricia”, enquanto ele “dorme na carícia de seus braços e sonha na poesia dos seus olhos”.

Estamos no mês de maio, que a piedade católica dedica à Mãe de Deus. O Santo Padre João Paulo II, devotíssimo de Nossa Senhora, na audiência particular que com ele tive como arcebispo, que eu era, de Uberaba, aconselhou-me a levar, em visita às casas de famílias, a imagem de Nossa Senhora, não só para abençoar as pessoas que a recebessem, mas também para afastar os erros de doutrina, que poderiam penetrar nos lares cristãos. Sugestão feliz, tão oportuna neste mês de maio, mês de Maria, que nos deu Jesus. E ao receber a imagem que nos visita, rezar-lhe: “O! vem: minh’alma é escura. Faze-a agora, / clara, tão clara de um claror da aurora, / branca, tão branca de um brancor sem fim”.

 (*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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