Certa tarde, sentei em um banco no jardim do condomínio em que moro. À sombra de uma grande paineira, folheava o jornal passando vistas superficiais em suas páginas, até que alguma manchete me detivesse a atenção.
Não tinha notado a presença de um senhor de idade avançada, sentado em outro banco, perpendicular ao meu. Nada havia em suas mãos, não havia ninguém com ele. Dele emanava um olhar triste, emoldurado pela pele sulcada pelos anos, mirando o chão. Lembrei-me de que uma vez ele me ajudara com um problema elétrico em meu apartamento, fazia já muito tempo.
Não existia nele ainda a dificuldade de hoje para andar e subir escadas. Até o seu aceno para outras pessoas era penoso, custava-lhe esforço erguer o braço, mas ele, ainda assim, o fazia. Era como se aquilo o retirasse por alguns momentos do cada vez mais difícil enfrentamento das dificuldades pelas quais ele parecia passar.
Com respeito e humildade, eu o observava enquanto o silêncio dele parecia eloquente. Havia nele um turbilhão de palavras. Os olhos falam. Havia muitas perguntas que gostaria de ter feito a ele. Talvez eu devesse ter fechado o meu jornal, ido até ele e me sentado ao seu lado. Talvez devesse tê-lo feito falar do passado, razão daquele olhar.
Talvez eu tivesse aprendido algo além do que aprendi com aquele episódio. Talvez eu tivesse um remorso a menos hoje por ter-lhe dado uma alegria a mais. Ele me ajudara um dia, sem sequer me conhecer e eu agia agora como se não o conhecesse.
Com isso tudo, a vida me ensinou que devo fazer pelo próximo o que posso e que há um cronômetro girando rápido. O tempo de ser humano é fugaz. A efemeridade é insuportavelmente real.
Antes que minhas conclusões se tivessem formado, ele levantou-se e se foi a passos curtos e trêmulos. Ele merecia que eu o tivesse ao menos ajudado a andar até a sua casa. Perdi o momento certo. Perdi tudo naquela tarde de sol.
Em sua memória, não voltarei a cometer o mesmo erro.