Corria o ano de 79. Nós, estudantes, marcamos um ato público na Praça Rui Barbosa. Um dia antes, Dom Benedito nos chamou para uma reunião (neste dia, percebi que havia um livro de Drummond sobre a mesa) e disse-nos que se o ato fosse reprimido ele abriria as portas da Catedral para que o continuássemos lá dentro. Foi o que aconteceu, terminamos o ato público dentro da igreja aos sons das bombas de efeito moral que explodiam na praça. Deste dia em diante, cultivamos forte e fraterna amizade. Devo a ele minha conversão. Detalhe relevante: a Adriana e a mim ele chamava de filhos e a meus meninos, de afilhados, pois nos deu a honra e a satisfação de deslocar-se de Uberaba a Rio Preto, especificamente para batizá-los. Quem teve a alegria e a graça de conhecê-lo mais de perto há de guardar belas recordações de sua vida exemplar. Amigo, sabia ouvir e aconselhar com o dom do discernimento e à luz do profundo amor à igreja. Incansável, multiplicava o tempo atendendo a todos que a ele recorriam, acolhendo serenamente, a cada um com um sorriso de bondade. Amado e respeitado pelos sacerdotes, sabia confiar neles e incentivá-los no exercício do ministério. Fiel a seus princípios, Dom Benedito foi homem reto, sincero e, sobretudo, humano. Serviu à igreja de modo total e em tempo integral. Em tempos que a ordem era o silêncio, protegeu perseguidos políticos com uma firmeza e austeridade que desarmavam os militares. Foi ele, um arauto do “Evangelho vivo”.
Corre o ano de 2014 e nós devolvemos a Deus o grande presente que Ele nos deu um dia: DOM BENEDITO DE ULHOA VIEIRA; que, como poucos, seguiu a lição de Drummond: “Fácil é sonhar todas as noites; difícil é lutar por um sonho”. Dom Benedito encarnou esse sonho dos que nunca vão embora, daqueles que sempre estarão presentes em nossos corações.
De São José do Rio Preto para Uberaba, em 4 de Agosto de 2014.
(*) Engenheiro e ex-vereador em São José do Rio Preto-SP