Certo dia detectou um chato na família. Desde então, passou a temer herdar aquela característica. Para isso evitar e para deles se defender passou a observar os chatos. Os ditos carimbados, de carteirinha do clube dos chatos. Percebeu que chatice não tinha a ver com caráter.
Notou que em toda aglomeração havia um chato. Passou a usar de um recurso eficiente. Toda vez que um chato aproximava-se em poucos segundos dizia que ia ao banheiro. Sumia dele. Mas já houve a ridícula situação de um superchato o seguir até um banheiro coletivo. Era um chato renomado! Daqueles que não adianta fingir dormir em viagem, cutucam, puxam assunto, fazem consulta, especulam tudo. Aliás, os "especulas" são classe de destaque.
Passou a classificar os chatos. Os donos da verdade, os bajuladores, os das piadinhas ridículas, os pegajosos, os que a conversa nunca acaba, os explicadinhos. O chato bêbado é dose. O filósofo, o melhor em tudo, o esnobe, metido a rico, o frase feita, o egocêntrico, o visita demorada, o chorão, o que se diz íntimo, o adivinhador de desgraça, o mimado, que tudo tem que ser ao seu gosto, o mestre, o sabe tudo, o teimoso e muitos outros. Detectou a perigosa classe da primeira meia hora, ardilosos. Esses no início são simpáticos, mas logo obtida a aproximação já mostram a verdadeira chatice.
Chato é sem noção. Cerca, invade, insiste, procura, incide, reclama, cobra afeto. Então, notando que em toda aglomeração havia um chato, quando fazia festa já convidava um daqueles mais amenos e suportáveis para cumprir a regra. Quando havia acúmulo de pessoas e não via um chato, já temia ser ele o próprio chato. A única vez que gostou de ver um chato foi quando já estava a recear ser o chato da hora por ausência de um e aí apareceu um daqueles de carteirinha para preencher a vaga.
É bom ter cuidado, são minoria, mas surgem em toda parte.
Bom também zelar para não se tornar um deles!
