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Paris III – Nossa Notre Dame

A catedral de Notre Dame foi uma das duas paradas em que nos foi permitido descer durante o city tour

Dionyzio A. M. Klavdianos
Publicado em 06/05/2019 às 22:29Atualizado em 17/12/2022 às 20:31
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A catedral de Notre Dame foi uma das duas paradas em que nos foi permitido descer durante o city tour; a outra, óbvio, foi a torre Eiffel. Era Domingo de Ramos; as portas da igreja estavam cerradas; para passarmos pelo cordão de isolamento em torno da igreja nos exigiam abrir as bolsas, e a fila de fiéis e turistas aguardando a sua vez era enorme. 

Na segunda-feira, logo pela manhã, partimos para a primeira visita técnica do dia, os laboratórios de testes de materiais do Centro Técnico e Científico da Construção (CSTB). Criado no ano de 1947 para centralizar o controle dos trabalhos de reconstrução da cidade, o centro hoje é referência mundial no que tange a avaliação de materiais, componentes e sistemas.

O laboratório de fogo foi o primeiro visitado. Lá conhecemos o vulcão, uma estrutura de concreto armado modular que pode atingir até 9 metros de altura e 3m de comprimento, variando de acordo com o ensaio que será realizado.

Na França não se combate fogo com sprinklers, mas garantindo-se que, em caso de incêndio, a segurança da estrutura, a compartimentação dos ambientes e a propagação de fumaça serão preservadas no tempo adequado para a evacuação do prédio. No momento em que visitávamos o laboratório, estava em teste uma porta de aço que lacra túneis em caso de propagação de incêndio.

Ao final do dia, este foi o laboratório que mais gerou questionamentos por parte dos interessados. Ficou clara – inclusive, foi reforçado pelo diretor do laboratório – a preocupação do país, que tem normas rígidas em vigor desde a década de 1970, com o tema.

Chamou a atenção a torre de andaimes numa das fachadas da igreja. No dia seguinte ao da tragédia, um diretor da CSTB com quem jantamos nos disse que a reforma já durava em torno de 15 anos. Difícil não encontrar, hoje em dia, um monumento histórico mundial que não passe anos assim, envelopado.

Perambulávamos pelos jardins de Luxemburgo quando demos conta da fumaça escura e densa no céu; pela internet, a notícia do incêndio na catedral. Fomos para o local e o fogo era intenso na região dos andaimes. A maior possibilidade é que a causa tenha sido um curto-circuito numa das fiações provisórias da obra.

Obra há muito tempo requisitada é necessária no Museu Nacional do Brasil, destruído no fim do ano por um incêndio, que teve início, de acordo com a perícia, numa ligação elétrica de ar-condicionado mal feita.

No jantar, escutamos do diretor da CSTB que em menos de 24 horas já foram arrecadados quase U$S1 bilhão de dólares para a reconstrução da catedral. Passados quase sete meses da tragédia carioca e 24 horas da francesa, a semelhança entre as duas parece ter ficado mesmo só na sua origem. 

(*) Engenheiro civil, formado pela UnB; diretor técnico da Construtora Itebra, presidente da Comat/Cbic e 1º vice-presidente do Sinduscon-DF

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