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Dois Brasis

Parazinho fica próximo de Natal, no Rio Grande do Norte. Não é bonito e tampouco se percebe progresso

Dionyzio A. M. Klavdianos
Publicado em 03/04/2019 às 21:10Atualizado em 17/12/2022 às 19:32
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Parazinho fica próximo de Natal, no Rio Grande do Norte. Não é bonito e tampouco se percebe progresso quando se cruza o município. Destoa do potencial de riqueza que se vê em volta, cercado que está pelo maior parque eólico e a 30 quilômetros da costa que mais produz camarão e lagosta do país. 

As torres que vimos são de concreto (também há as de aço), medindo 120 metros de altura e divididas em cinco partes, cada uma delas formada por duas bandas, concretadas metade a metade e, posteriormente, coladas e montadas no campo, à exceção da última, que já sai pronta da planta fabril composta de dez pontes rolantes.

A produção é completamente industrializada. A central de usinagem fica ao lado da planta; o concreto é autoadensável e, antes do lançamento, uma série de ensaios prévios é realizada – fluidez, teor de ar incorporado, funil V, temperatura… Se qualquer dos índices sair fora do limite, o caminhão é condenado. Apesar de todo o rigor, ainda assim cerca de 2% da produção não pode ser utilizada – pouco, mesmo se considerarmos que ficaram prontas 149 torres de 391 metros cúbicos de concreto cada…

Antes de ser liberada para o campo, cada peça recebe pintura epóxi; fica tão bonita que dá a impressão de ser de plástico. A torre não é, mas as hélices são de madeira, resina, fibra de carbono, fibra de vidro e resina e fabricadas no Brasil. Cada pá mede 54 metros de comprimento, portanto, o conjunto tem 108 metros! Na ponta da hélice a velocidade é superior a 200 quilômetros por hora!!! O conjunto eletromecânico chama-se aerogerador e para chegar até ele só de elevador; isso mesmo, cada torre tem um. Pela escada, levaria ao menos uma hora para atingir o topo.

Na Europa, as torres não podem ser instaladas próximas a cidades, pois o giro das hélices incomoda os habitantes por causa do barulho, do lusco fusco e do reflexo do brilho do sol incidindo sobre as pás. Pode parecer exagero, “mas pense… – como bem disse o Nelson, engenheiro mecânico e nosso cicerone – …em quem mora do lado da torre, 24 horas por dia!”. Não se instala qualquer parque eólico sem testes prévios por três anos ininterruptos, com anemômetros posicionados na altura real de implantação da torre e nem na rota de migração de aves.

De Natal até o parque eólico foram duas horas de carro, debaixo de uma chuva torrencial, ininterrupta e raríssima, segundo os companheiros de viagem. Indago o porquê, então, da paisagem, similar à de transição de caatinga, toda verdinha. E o Nelson responde que basta pouca chuva para tamanha transformação. As cisternas ligadas à captação de águas pluviais no telhado das casas, em Parazinho, como que atestam a sua afirmação.

No retorno para Natal, as mesmas duas horas, só que à noite. Reparamos que a pista, com tráfego intenso e constante, de mão única, pouco iluminada e em boa parte esburacada, não condiz com a importância da região.

O colega, no carro, comenta que na BR-101 já tem placa de concreto “estourando”. Não dá para entender: o concreto, que era para ser tão bom como o da torre, deteriorando numa pista recém-construída; o povo de uma região bonita e próxima da capital de um estado ter de recorrer à cisterna para guardar água; um município carente como Parazinho no meio de tanta riqueza… 

(*) Engenheiro civil, formado pela UnB, diretor técnico da Construtora Itebra, presidente da Comat/Cbic e 1º vice-presidente do Sinduscon-DF

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