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Fardo

Uma cena prosaica do filme brasileiro Arábia ocorre quando caminhoneiro e chapa, este último

Dionyzio A. M. Klavdianos
Publicado em 26/06/2018 às 21:01Atualizado em 17/12/2022 às 10:57
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Uma cena prosaica do filme brasileiro Arábia ocorre quando caminhoneiro e chapa, este último o personagem principal da história, logo após descarregarem o caminhão, discorrem acerca dos materiais mais difíceis de se carregar. De produtos agrícolas a industriais, uma vasta lista é passada e, para minha surpresa, os dois elegem a telha de fibrocimento como o pior.

Fosse eu, o primeiro produto a me vir a mente seria o saco de cimento, de 50kg, que, de acordo com notícia publicada no boletim informativo da CBIC de 19 de junho, sairá de cena até dezembro de 2018, substituído pelo saco de 25kg.

2018 é também o horizonte do projeto de foresight, previsão do futuro da construção civil brasileira, parceria entre CBIC e Senai-BR, quando esperamos que o setor já tenha incorporado muitos dos preceitos da Indústria 4.0 e 5.0.

Não será fácil e, no projeto, está claro que só será possível se ocorrer uma mudança na forma de pensar daqueles que trabalham no setor.

Há uma cena no filme em que trabalhadores, durante a construção de uma rodovia, escalam, picotando com alavancas, um rochedo íngreme, sob sol à pino. Tipo de serviço que hoje só se justifica como forma de absorção de mão de obra de baixa escolaridade e sem especialização técnica, bem o caso da construção civil. Serviço este que, com algum incentivo à pesquisa, poderia ser realizado por uma espécie de robô aranha.

O caso do saco de cimento é simbólico no processo de transição para uma indústria mais moderna. Uma coisa é o insumo em si, que, descoberto no início do século 19, sob os auspícios da primeira revolução industrial, garantiu a transformação dos centros urbanos a partir de sua incorporação ao concreto armado. Posteriormente, tornou realidade o sonho da Arquitetura Modernista e foi determinante na concepção da cidade de Brasília, Patrimônio Mundial da Humanidade.

Outra coisa é o saco de 50kg, que aflige a saúde do trabalhador; não conta, até hoje, com uma solução simples, barata e disseminada de reciclagem para a embalagem; e, consumido in natura, é um dos insumos mais utilizados na construção informal.

A indústria do futuro espera da construção civil uma contribuição à altura do que foi o cimento para a primeira revolução industrial.

(*) Engenheiro civil formado pela UnB, diretor técnico da Construtora Itebra, presidente da Comat/Cbic, da Coopercon-DF e vice-presidente administrativo-financeiro do Sinduscon-DF

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