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Mudanças

Mudanças são inevitáveis em nossas vidas, mas nem sempre são para melhor

Márcia Moreno Campos
Publicado em 08/06/2019 às 10:13Atualizado em 17/12/2022 às 21:30
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Mudanças são inevitáveis em nossas vidas, mas nem sempre são para melhor. Trabalhei na Receita Federal por 36 anos e tenho acompanhado a trajetória dessa instituição desde muito tempo. Sou da época do Telex, da máquina de escrever manual, que depois passou para elétrica, da chegada do FAX, apresentado como grande novidade, do telefone sem fio, que facilitava atender chamadas quando estávamos fora de nossas salas, e até da aquisição de um único computador, disputado por aqueles que aprendiam a utilizá-lo, mesmo tendo ele poucos recursos. Quando surgiu o primeiro celular, um aparelho da Motorola que ficou conhecido como “tijolão”, e que só exercia a função de telefone, ficamos todos encantados. As novidades chegavam devagar, dando um tempo grande para assimilá-las. 

Tudo era em papel. Processos eram protocolados e movimentados fisicamente, mediante despachos, entre as várias seções da Delegacia. Ao final de cada despacho, carimbávamos nossos nomes, cargos e funções e sobre o carimbo assinávamos. Recebíamos documentos através de malotes vindos de Belo Horizonte e de outras cidades da Região, diariamente. As declarações de imposto de renda, tanto de pessoas físicas como de jurídicas, eram apresentadas em formulários próprios, preenchidos à mão ou à máquina. Antes do prazo final para a entrega dessas declarações, organizávamos palestras para contadores e interessados e também um plantão fiscal para tirar dúvidas. Recebíamos muita gente, inclusive vários idosos, preocupados em não errar, e que acabavam interagindo conosco e voltando ano a ano. Era tudo tão diferente. No campo do relacionamento com os colegas, fiz vários amigos. Nas pausas para o café, no bom-dia diário, nas reuniões festivas, a convivência sempre foi saudável, importante, fraterna e produtiva. Trabalhar era um aprendizado constante.

Eis que agora, em plena era digital, tudo mudou. Processos e declarações se tornaram eletrônicos e o contato físico com o servidor quase inexiste. Quem quer reclamar, tirar dúvidas, agendar qualquer coisa, só via computador. Funcionários já trabalham em casa como parte de grupos virtuais que funcionam remotamente atendendo às demandas dos órgãos. Tudo muito impessoal e distante. Os controles se aperfeiçoaram e os cruzamentos de dados fazem por si o trabalho antes por nós executado. Perde-se o contato, a troca de experiências, o olho no olho. 

E nessa onda de mudanças, alegando necessidade de contenção de gastos, o governo federal determinou um corte de funções que redundará em reestruturação organizacional, impondo a transformação de nossa Delegacia da Receita Federal de Uberaba em Agência. Perderemos status, mas, principalmente, parte de nossa história.

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