Nossas decisões nos definem e os motivos que nos levam a decidir por isso ou aquilo são intrigantes e objetos de estudo de filósofos, psicólogos, neurocientistas e teólogos ao longo do tempo. São os chamados dilemas morais que permeiam nossas vidas e nos jogam contra a parede quando somos instados a fazer escolhas complexas entre alternativas nada confortáveis. Decidir envolve aspectos cerebrais, afetivos e vivenciais com consequências que podem variar de passageiras a eternas. Em um dos vários estudos sobre os dilemas morais foi apresentado a voluntários pelo filósofo e psicólogo evolutivo Joshua Greene a seguinte questã “Um trem elétrico vai atingir cinco pessoas que trabalham distraídas sobre a linha. Você tem a possibilidade de evitar a tragédia acionando uma alavanca que desviará o trem para a outra linha e nessa outra linha atingirá apenas uma pessoa. Você mudaria o trajeto salvando as cinco e matando uma?”. A maioria dos entrevistados respondeu que sim. Nesse experimento, a atitude mais correta é a que resulta no bem para o máximo de pessoas. Como ficou provado, queremos o melhor para o maior número possível, mesmo que para isso tenhamos que sacrificar alguém. O dilema muda de figura quando, como alternativa para salvar os cinco que trabalham sobre a linha, tenhamos que desviar para a outra, onde se encontra ninguém menos que um filho nosso. Como decidir? A noção de redução de dano deve superar o instinto materno ou paterno e o amor por um filh
Invoco o dilema moral a respeito da questão do desarmamento no Brasil. Para combater a violência crescente e desordenada, propõe-se armar a população para fazer face aos bandidos, estes já fortemente armados, num enfrentamento que pretende ser de igual para igual. Trata-se de uma solução simplista com efeitos colaterais incalculáveis e perdas de preciosas vidas. Com o acesso ilimitado às armas de fogo, ficaremos mais à mercê das consequências de ataques de fúria como os desencadeados pelo preconceito, as rixas de trânsito, as desavenças de vizinhos, os bullyings nas escolas. Sem contar com o despreparo da população para fazer aquilo que a bandidagem vem fazendo há tempos.
O tema segurança tem que ser debatido à exaustão e com urgência. A população brasileira sente-se indefesa, mas permitir o porte de arma de maneira geral e irrestrita é um tiro que pode sair pela culatra. Justifica-se a posse de uma arma em casos especiais e após uma análise prévia e treinamento adequado. O dilema moral que envolve vidas é muito mais sério que promessas ao vento. A se discutir.
