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Sabemos votar?

Nos anos 70 o rei Pelé, considerado o maior jogador de futebol do mundo

Márcia Moreno Campos
Publicado em 01/09/2018 às 11:17Atualizado em 17/12/2022 às 13:07
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Nos anos 70 o rei Pelé, considerado o maior jogador de futebol do mundo, deu uma declaração dizendo que o brasileiro não sabia votar. Caíram de pau nele com críticas pesadas de toda a parte. Coube-lhe calar e se retrair. Hoje, passados tantos anos, acredito que muitos dos que o criticaram, se justos forem, darão a mão à palmatória. Os brasileiros votam por paixão, compaixão, revanche, protesto, interesse, ilusão de que o candidato o tirará de seu estado de penúria, ou por alienação pura e simples, como um autêntico “Maria vai com as outras”. Muitos poucos procuram conhecer e atrelar as falas dos candidatos aos seus exemplos de vida, suas carreiras, seus currículos, seus programas de governo. O eleitor, via de regra, despreza o que para mim é o mais releva

nte em qualquer escolha: a coerência. Políticos mudam de lado e Partido de conformidade com seus interesses pessoais; votam em plataformas que lhe deem mais visibilidade; falam uma coisa hoje e outra amanhã na maior desfaçatez, descompromissados que são com os desejos dos que neles votaram ou vão votar. E as regras do jogo são sempre as mesmas, eleição após eleição. O sistema político brasileiro favorece os detentores de mandato incentivando a incoerência, já que permite a troca de Partido num cipoal de 35 legendas, desprovidas de propósito. E quem se posiciona contra as regras não é visto, não é votado, não é eleito.

Temos exemplos reais de insensatez na eleição que se avizinha. Exemplos que desafiam a lógica, enfatizo. Um candidato preso por corrupção e lavagem de dinheiro que está inelegível por uma lei aprovada pelo seu Partido e sancionada por ele, e mesmo assim, se insurgindo contra ela, registra sua candidatura e é o primeiro colocado nas intenções de voto. Uma ex-presidente apeada do cargo por manobras fiscais escusas, e que só está concorrendo graças a uma ajudinha de última hora de seus apadrinhados políticos, também aparece em primeiro lugar nas pesquisas como senadora em um Estado em que ela nunca exerceu qualquer cargo, mas que eleitores ideológicos querem compensá-la pelo baque sofrido com o impeachment. Nesse mesmo Estado, nossa sofrida Minas Gerais, o governador candidato à reeleição aparece com 14% nas pesquisas apesar de atrasar todos os meses os salários e aposentadorias dos funcionários, de não repassar as verbas das Prefeituras, além de não ter cumprido promessas de campanha.

Cada voto gera uma consequência. Um bom candidato tem que ser mais do que um ganhador de eleições. Tem que ter estatura moral e ética para ocupar cargo público e competência para administrar ou legislar, conforme o caso. Mitos, lendas e super-heróis deveriam ficar restritos às historinhas infantis. Será que nossas escolhas são de fato erradas ou só refletem um pouco de nós mesmos?

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