Como já contei na crônica anterior, quando ocupei o cargo de vice-presidente da Superintendência Municipal dos Transportes Urbanos da Prefeitura do Rio de Janeiro, na administração do prefeito Luiz Paulo Conde, minha semelhança física com o alcaide andou causando muitas confusões.
Um dia fui chamado pelo Palácio, pela assessoria de Conde. Disseram-me que o prefeito iria me receber cedinho em sua residência do Itanhangá. Achei estranho ter que ir até o Itanhangá cedo pela manhã. Mas, o dever acima de tudo. Fiquei lá, esperando Conde descer, examinando a coleção de óperas no escritório para que ele conhecesse minhas ideias para a “Orla Conde” e para a “Praça XV”. Quando me viu, exclamou:
- Ué [é o “uai” daqui], Ivan, o que você está fazendo aqui a essas horas?
- Prefeito, manda quem pode, obedece quem tem juízo. Você me chamou. Eu estou aqui.
- Chamei nada, confusão da assessoria. Tenho que ir correndo a São Cristóvão ouvir solicitação da comunidade. Mas você vai tomar café comigo e me acompanhar.
- Ok, ok, mas queria que você conhecesse minhas ideias.
- Não vou me esquecer, marco um almoço para você no Centro Administrativo São Sebastião.
Depois do café entramos no enorme Omega preto. Na frente, o motorista e um oficial da PM. Conde e eu embarcamos atrás e cruzamos grande parte da cidade, desde a Barra da Tijuca até São Cristóvão. Ao chegar, o barulhão de fogos, e os dois da frente abriram as portas de trás exatamente ao mesmo tempo. Saímos juntos e o povo, atordoado, dizia:
- Ué!!! Qual é o Conde?
E eu, log - O de paletó. Alguém entregou-me um papeluch "Será que o senhor entrega depois para seu irmão?".
- Claro! Não havia clima ali para explicações, pensei. Deixa pra lá, Ivan...
E o dia do tal almoço chegou. Ao me ver, aquele adorável amigo, que já foi chamado por meu Deus, exclamou:
- Ivan, coloca as plantas na mesa e me espera. Vou dar uma cagadinha para eliminar as toxinas.
Mais tarde, quando já ocupava o cargo de vice-governador, fui ao escritório, no belo prédio do Banerj no Castelo. Conde me recebeu sempre bem-humorado, risonho, parecia sempre estar de bem com a vida. Quando Ângela Fonti, ex-secretária de Obras, nos viu juntos, riu muito de nossa semelhança. Mas Conde, de novo virou-se para mim e disse:
- Me aguarde aí, pois tenho que dar uma cagadinha.
Não me aguentei:
- Ué, Conde, você me vê, logo seus intestinos funcionam?
- É mesmo, Ivan, você é o meu laxante!!!
Caí sentado de tanto rir, enquanto ele sumiu de novo rumo ao toalete. Acho que foi a última vez que vi Conde.