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Estar na Patagônia – ressonâncias íntimas

Uma viagem diferente em busca de paisagens e vidas especiais que já foram fontes de novos conhecimentos

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 02/01/2019 às 20:44Atualizado em 17/12/2022 às 16:57
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Uma viagem diferente em busca de paisagens e vidas especiais que já foram fontes de novos conhecimentos elucidativos do ser e estar no mundo quando Darwin – a bordo do Beagle – teve um olhar científico sobre a fauna e a flora da região, estabelecendo as bases da sua Teoria da Evolução das Espécies. Para mim, foi como voltar no tempo ao me deparar com uma cidade fora do tempo corrente. Nem é preciso dizer que a Patagônia e Ushuaia estão sujeitas a um tempo implacável: frio extremo. Mesmo estando no verão, a temperatura mínima foi de três graus positivos, porém uma sensação térmica de menos três – parece que a qualidade conservadora do gelo que usamos para aumentar a durabilidade dos nossos alimentos estendeu sua ação sobre a cidade, mantendo-a estabilizada num tempo anterior. 

Se fizermos uma comparação entre duas fotos da paisagem urbana com diferença de um século entre elas, não veremos grandes transformações. O número de construções aumentou, mas não modificou totalmente o cenário como normalmente acontece. É claro que as montanhas altíssimas dificultam a extensão progressiva horizontal, mas, mesmo assim, a semelhança do cenário municipal nos instantâneos surpreende o visitante.

Sempre retornamos à implacabilidade do tempo ao recordarmos que em 1896 Ushuaia foi uma colônia penal onde o próprio local era o mais eficaz guarda – muitos voltavam à prisão depois de uma tentativa de fuga, em busca de abrigo, calor e alimento.

O Porto é o mais antigo e constante meio de comunicação com o mundo exterior, servindo de base para as relações de troca. Sendo uma zona franca, os marinheiros de todos os países buscam bens possíveis de mercado. Os habitantes da cidade mantêm vigília constante sobre a chegada e partida de navios até os dias atuais: antes traziam e levavam bens de sobrevivência e consumo; hoje trazem turistas.

As casas são de madeira e ainda mostram construções sobre trilhos. Primeiramente, em razão do solo, constituído basicamente de pedras de difícil manuseio; em segundo lugar, qualquer sábado pode ser a oportunidade de levar a casa para outro lugar ou outra cidade. A característica nômade dos primeiros habitantes – indígenas – se mantém, apesar de não existir a escassez alimentar dos primeiros tempos. Por outro lado, os carros velhos permanecem no jardim ou ao redor das construções. Em Ushuaia não existe ferro-velho ou pátio onde se estacionam carros rejeitados por seus donos. Tudo tem valor, porque tudo pode ser reformado ou aproveitado em novas peças e construções: pode até ser modificado para o divertimento das crianças ou ainda como lembrança. (continua) 

(*) Psicóloga e psicanalista

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