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O subsolo pertence à União

A frase aí de cima vem da nossa Constituição Federal. Em nome do povo de Mariana e de Brumadinho

João Eurípedes Sabino
Publicado em 31/01/2019 às 21:52Atualizado em 17/12/2022 às 17:47
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A frase aí de cima vem da nossa Constituição Federal. 

Em nome do povo de Mariana e de Brumadinho somado às vozes de todos os brasileiros, eu pergunt que União é essa? A resposta é objetiva: união das empresas mineradoras, uai! Sim; a União é delas, sem a menor dúvida, já que juntas fazem parte de um grupo sagrado e inatingível, que, agindo no subsolo do poder, ditam regras próprias, redigem suas leis e os governos batem palmas. 

No rompimento da Barragem de Mariana (05/11/2015), consta que as ações da Vale despencaram no mercado. Passado algum tempo, subiram 200%. Segundo o jornalista Ricardo Boechat, com isso, a empresa saiu ilesa, decolou em seu voo e o povo de Mariana sobrou. 

E agora, os fatos se repetirão? Precisamos conter essa escalada. A prisão dos responsáveis está sendo um bom começo.

Os que me conhecem sabem do grau de comedimento contido em minhas manifestações; isso porque militei no Poder Judiciário como Perito Oficial, por quatro décadas, merecendo a confiança irrestrita de juízes e promotores de Justiça. Todavia, sinto asco quando ouço a expressã “venda de sentença”. Não sei o que é isso, porque nunca servi a juiz venal, mas sei que só os poderosos ousam a tal expediente e os capitulados a eles se rendem. A construção do fórum de Parauapebas/PA pela empresa Vale do Rio Doce é caso típico dessa submissão. Precisa mais? 

Não me passa pela goela o fato de termos o subsolo mais rico do mundo e perfilarmos com países de terceiro e quarto mundo em que a educação, a saúde, a segurança e outros setores ficam como se fossem a última bola do jogo. A nossa escravidão continua sob o patrocínio dessa gente, paga a peso de ouro e que só nos vê como subdesenvolvidos. Tenho uma inquietude: quem estaria por traz da morte de Tiradentes em 1792? 

Temos 98% do nióbio do planeta e não conseguimos impor o nosso preço, mesmo sabendo que esse minério está em tudo. Aí mora a compra da consciência de agentes públicos em todos os níveis, que são pagos para não importunar. É a ganância pelo poder a qualquer custo. Os que não gostarem dessa afirmação lutem para não ser incluídos nesse rol.

Não sou engenheiro de minas, geólogo ou profissional correlato para “dissecar” uma mineração. Conheço algumas mineradoras na condição de Auditor Fiscal do Trabalho e sei o grau de risco de acidentes e doenças por elas oferecidos aos seus trabalhadores. Não por acaso, na classificação legal, elas ocupam o topo e as provas eloquentes estão aí; Mariana e Brumadinho e outras sujeitas ao efeito dominó.

Por onde anda o Crea/MG, entidade fiscalizadora à qual servi como Inspetor-Chefe Regional, por cinco anos? Se há a engenharia, o Crea deve estar presente, mas em Brumadinho até agora não vimos suas imagens. Notas esfarrapadas do Confea e do Crea vieram a público, das quais me envergonho.

Enquanto isso, os túneis, perfurações e cortes do subsolo brasileiro pelas mineradoras prosseguem. Em contrapartida, corremos o risco de ver mais benesses serem dadas a elas e, em troca, recebermos tragédias. Tudo porque o nosso Congresso está voltando de seu recesso hoje (01/02/2019) e “homens sem escrúpulo do poder” vêm aí. Oxalá alguns deles tenham a coragem de peitar as mineradoras, mesmo sacrificando a própria vida. Será? 

Aqui os parabéns aos nossos heróis Bombeiros Militares, que, com seus salários fatiados, se jogam de corpo e alma na causa de Brumadinho, como se, em seus lares, o sustento estivesse tudo bem...

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