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O que nos promove um cão...

Querido cão Kiko meu amigo / Um dia nos encontramos / Um compromisso selamos

João Eurípedes Sabino
Publicado em 03/01/2019 às 20:06Atualizado em 17/12/2022 às 17:00
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Querido cão Kiko meu amigo / Um dia nos encontramos / Um compromisso selamos / Para sempre ficaria comigo / Somente a morte com sua sentença / Iria separar você de mim / Eu desejava assim / Minha vida teve sua presença. A trova que ora apresento consta do poema que ofereci ao meu cão Kiko que vi partir no dia 28/12/2018. 

História: era o ano de 2008, numa noite de garoa, me encontrei com Kiko dando suas voltas pela Praça Dr. Jorge Frange. Convidei-lhe para me seguir e ele aceitou a proposta, fomos a uma longa distância e depois voltamos. Tudo normal, não fosse a cena que presenciei e aqui reedito. Ao passarmos pela mesma praça, o mestiço Dobermann com Vira-Latas, preto, cruzou a rua e correu até à estátua do andarilho São Bento instalada no vértice próximo à Rua São Benedito. Ali Kiko colocou as duas patas dianteiras na base do pequeno monumento e fitou a obra de Zelitto por um bom tempo. Não entendi a cena, mas naquele instante começou a nossa cumplicidade só terminada no dia 28/12/2018. Fiz-lhe a crônica “Cão de rua” lá em 21/11/2008, publicada nesta página. Passou de 10 anos a nossa convivência harmoniosa.

Nesse ínterim, no dia 19/04/2010 a escritora Rita Andrade lançou o livro “Filhos da Alma” retratando a vida dos cães de rua, suas lutas, seus dramas e privações. Kiko figurou na capa da obra mostrando sua pureza.  

Com facilidade para captar o adestramento, “meu negão” revelou-se disciplinado, dócil e jamais estranhou a alguém. Fugiu algumas vezes, mas dias depois estava de volta mostrando as costelas devido à fome que a rua impõe aos cães. Não era de briga e sim um conciliador, tanto que não molestava os colegas e sua marca registrada era um sorriso que mostrava todos os dentes. Ladrava pouco e sabia ser um bom cão de guarda.

Há seis meses, depois da longa jornada comigo, uma cardiopatia grave acometeu o meu amigo Kiko. Seu coração cresceu duas vezes e meia além do normal. Tudo fizemos para salvá-lo, mas a doença foi mais forte. Não restou outra alternativa senão a de esperar o desfecho final.

Depois de ser alimentado e medicado, Kiko tombou sem vida. Seu coração não resistiu a luta travada junto com os pulmões já comprimidos pela falta de espaço, além dos rins que entraram em falência. Preparei-me para aquele momento, mas a realidade mudou as coisas. Não foi nada fácil leva-lo à Zoonoses e deixá-lo dentro de uma câmara fria...

Se eu pudesse voltaria ao passado / Reviveria tudo outra vez / Por todo o bem que você me fez / Teria em dobro lhe recompensado / Meus filhos e netos lhe conheceram / Demais familiares e amigos também / Sua importância foi muito além / Homenagens todos lhe renderam... 

Eis o que nos promove um cão de rua.

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