ARTICULISTAS

Chispas

Quando fiz estágio na Rodovia Transamazônica no ano de 1972, presenciei algo sutil

João Eurípedes Sabino
Publicado em 11/10/2018 às 19:11Atualizado em 17/12/2022 às 14:24
Compartilhar

Quando fiz estágio na Rodovia Transamazônica no ano de 1972, presenciei algo sutil que o pessoal da caserna conhece bem. Oficiais-generais (do Exército, Marinha e Aeronáutica) visitavam a obra. Um colega e eu estávamos no mesmo ônibus para indicar o caminho de Altamira à selva bruta. Quem olhasse superficialmente não percebia, mas eu sabia o porquê de esse ou aquele oficial-general se sentara à frente, no meio ou mais atrás no ônibus. Questão de hierarquia.

Quatro estrelas nos ombros à frente. Três, mais atrás e duas do meio para os fundos. Só vi um major artilharia do Exército que me pareceu ser ajudante-de-ordens do chefe daquela expedição. Nas paradas, para descer e subir no ônibus seguia-se a mesma ordem (“grandes”, “médios” e “menores”), embora fossem todos oficiais-generais. Questão de hierarquia.

Outro episódi o Estado-maior das Forças Armadas (EMFA) visitava as obras da barragem de Volta Grande também no ano de 1972. Ali também estavam generais do Exército, brigadeiros da FAB e almirantes da Marinha.  Antes de percorrer o imenso canteiro de serviços o grupo foi levado a um auditório para receber informações técnicas sobre o projeto.

À frente do corpo de oficiais-generais estava o palestrante, um competente engenheiro civil formado na saudosa Escola de Engenharia do Triângulo Mineiro. Um metro e noventa de altura, sotaque paulistano, o homenzarrão, empolgado, falava aos militares e ocorre o inesperad a porta da sala estava aberta. Passa um desavisado e, fazendo sinal de positivo com o polegar direito a prumo, solta um estridente brad “Fala sargento Marcos!” (nome fictício). Os oficiais-generais se entreolharam espantados e a aula do engenheiro foi ao chão. Por quê? Questão de hierarquia. Como assim? É que o engenheiro palestrante havia sido segundo sargento do Exército e estava ali dando aula a generais? Como assim?

Por que dei volta tão longa para enfocar as chispas que estão ocorrendo entre o candidato a Presidente, capitão Bolsonaro, e seu vice, general Mourão? Imaginemos o capitão, já Presidente, comandante em chefe das Forças Armadas, frente a frente ao general-de-exército-Vice que, na prática, está seis postos acima de Bolsonaro. Samba do crioulo doido?

E Bolsonaro já deu recado direto a Mourão, para segurar a onda de falastrão. Inclusive pontuou enfaticamente que, se eleito, será ele o Presidente e Mourão o vice. De quebra “sugeriu” ao seu superior, também paraquedista, para que estude a Constituição, respeite-a e tire a túnica. Até para os de entendimento raso como eu, está claro que as chispas entre os dois vão continuar e talvez seja esse um dos maiores problemas para Bolsonaro. Enquanto os dois se estranham, alguém vai tirando partido da situação.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por