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Game of Cristo

Nestes tempos contemporâneos do Game of Thrones, em que se multiplicam os filmes

Wagner Dias Ferreira
Publicado em 02/08/2018 às 20:32Atualizado em 17/12/2022 às 12:03
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“Nós que olhamos é que precisamos como Jesus garimpar e enxergar o que há de humano e espiritualmente luminoso nestas pessoas.” (Wagner Dias Ferreira) 

Nestes tempos contemporâneos do Game of Thrones, em que se multiplicam os filmes de zumbi, parece razoável lembrar uma boa história das escrituras. Todo cristão que se preze já ouviu que, ao chegar a outra margem do mar da Galileia, Jesus encontrou um homem possesso que vivia em meio às sepulturas, e que mesmo que tentassem lhe impingir correntes ele as quebrava e fugia.

No diálogo com o Mestre, este homem reconhece que Jesus era o Filho de Deus, o que muita gente que estava o tempo todo com o Cristo ainda não tinha reconhecido. E atento ao ser humano espiritual importantíssimo que estava por trás de toda aquela manifestação de loucura, Jesus expulsa a legião de demônios, mostrando que tudo aquilo não tinha valor, lança em porcos imundos e os porcos em um abismo. O homem que resta após a expulsão daquelas manifestações reprováveis é exaltado por Jesus como Seu mensageiro importantíssimo.

Esta passagem das escrituras, que está no livro de Marcos, capítulo 5, mostra claramente que para alcançar a natureza humana é preciso ir além das superficialidades.

A primeira impressão não pode ser a que fica. Não pode haver nada que seja duradouro em um primeiro olhar. A primeira impressão e o primeiro olhar devem, inexoravelmente, ir para o abismo.

Garimpar é uma palavra que deve estar sempre presente no vocabulário das relações humanas. Todo encontro entre dois entes humanos deve estar guiado pelo desejo de garimpar a luz espiritual que dá sentido real e vivo à existência daquela outra pessoa. E tudo que se encontra na superfície deste ser humano que se garimpa e que não tem nenhum valor deve ser imediatamente lançado aos porcos e ao abismo.

Muitas pessoas seguem vivendo suas vidas indo a missas e cultos religiosos e na maior parte das vezes escolhendo as atitudes de Jesus que irão imitar. Assim, ninguém quer esta do Jesus garimpeiro que vai fundo ao coração humano e descobre a luz divina, desvenda seus entraves e permite que ela se manifeste na superfície para brilhar. Essa é difícil. Ela levaria o cristão a lugares como as ruas cheias de pessoas usuárias de crack, bebedores problema, preguiçosos contumazes, criminosos, ou ainda a lugares onde há pessoas com orientações sexuais diversas e prostitutas e toda sorte de boas pessoas para as quais olhamos e vemos apenas demônios.

Nós que olhamos é que precisamos como Jesus garimpar e enxergar o que há de humano e espiritualmente luminoso nestas pessoas.

Trabalhar com Direitos Humanos, combater a reforma trabalhista, reconhecer que o Governo Temer é o fruto de um golpe, Constitucional, mas um golpe, defender pessoas presas, querendo sua libertação para mais uma chance na vida. Lutar, combater o bom combate, incansavelmente, até chegar à luz daquele ser humano lá no fundo de suas entranhas é a verdadeira imitação do Cristo. Aquele Cristo que viu a luz espiritual em um louco que habitava as sepulturas. 

(*) Advogado e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG

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