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Tudo se resolve através da violência?

A violência é um fenômeno por demais complexo e merece ser tratado com muito cuidado

Fernando Vechi
Publicado em 28/05/2015 às 20:52Atualizado em 16/12/2022 às 23:58
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A violência é um fenômeno por demais complexo e merece ser tratado com muito cuidado. Disseminada entre os mais diversos âmbitos e camadas sociais, ela aparece como um modus operandi de resolução, correção ou disciplinamento de conflitos. Seu agente causador provoca a dor física ou psicológica como forma de manter ou impor determinada conduta a outrem. Desse modo, é eminentemente um meio para se chegar a um fim. Pode ser considerada até uma vertente da própria política com suas variadas teias de poder e seus sujeitos. E nessa linha, até que ponto as instituições consideram legítimas as formas de violência e, afinal de contas, quem detém o papel principal neste teatro caótico? A família? O Estado (por meio da polícia)? A história mostra essa troca de experiências num complexo de definição e comportamento condicionado das pessoas gerou um fruto denominado violência que é visto por um viés benigno e necessário.

Freud dizia em seu livro denominado “Mal Estar na Civilização” que a violência é parte natural do ser humano e que, desde os primórdios, os problemas eram resolvidos através dela. Outro pensador visto e revisto pela teoria sociológica, principalmente no âmbito do direito, é o inglês Thomas Hobbes, que proclamou no século XVI sua famosa frase “o homem é o lobo do homem”. A dominação do homem pelo próprio homem se dá através da violência como forma de não ser dominado, mas continuar com esses status de dominador, garantindo os privilégios do monarca. Atualmente os tempos são outros e o contexto histórico mudou, mas a violência continua sendo trazida à tona pelos mais variados personagens da sociedade. A televisão pode ser ligada às 7h da manhã, na hora do café matinal, e em algum programa jornalístico serão encontradas notícias de alguma morte ultraviolenta em qualquer recanto do Brasil. Perto do meio-dia, é perceptível o trânsito caótico nas grandes cidades e a cena de violência perpassando a todo momento, seja numa batida violenta entre veículos, seja nos xingamentos constantes entre os motoristas por algum erro de conduta. Por fim, quando se deita para dormir e relaxar, assiste-se a um filme que mostra as cenas da guerra do Vietnã e as bombas jogadas sobre “Ho Chi Minh”, cidade vietnamita.

As pessoas foram condicionadas a se acostumar com a violência. Ela é propagada por todos: em páginas do Facebook, em botecos e botequins, nos estádios de futebol, inclusive nas instituições estatais. Em pleno século XXI, a sociedade, com todo seu aparato tecnológico disponível no mercado, continua a manter esse fantasma a rondar o ambiente público e privado. E a violência é um completo círculo vicioso, que não tem fim. Causa uma onda devastadora onde passa, como se fosse a peste negra na Europa, ou a pedra no lago que reverbera ondas por toda a superfície. Se a violência continuar a ser propagada como estamos vendo diariamente, o saldo será sempre negativo. É preciso paz em todas as relações interpessoais, verticais ou horizontais, familiares ou estatais. A frase “se queres paz, prepara-te para guerra” não faz parte do Estado Democrático de Direito atual, mas sim de um Estado expansionista e belicista como foi o romano há milênios. As coisas estão muito sérias, e o atual cenário político deve ser tratado com muito cuidado para não manter esse status quo de que a violência é algo necessário a garantir o bem-estar das pessoas. 

(*) Graduando pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Cidadania e Direitos Humanos (Nupec)

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