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VALE, VALE, VALE... até quanto vai isto?

Feriado em São Paulo, 25/01/2019, Mercado Financeiro às moscas, final de férias e a tragédia de Mariana, em 2015

Karim Abud Mauad
Publicado em 29/01/2019 às 21:26Atualizado em 17/12/2022 às 17:42
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Feriado em São Paulo, 25/01/2019, Mercado Financeiro às moscas, final de férias e a tragédia de Mariana, em 2015, se repete em Brumadinho, com um agravante, o número de mortes aumentou de forma exponencial, se não bastassem aqueles 19 de lá, com certeza serão 300 de cá. Terrível. Quanto vale este sacrifício de humanos? Não desconheço os demais desastres envolvidos, desastres ambientais, desastres na vida das cidades diretamente envolvidas, desastres para os que sobreviveram e perderam seus bens e entes queridos, desastres para o Estado e, também, para o país. Muito se falou na perda de valor da companhia, responsável por quase 11% do movimento da bolsa de valores brasileira. Também se lembrou da imagem negativa gerada para o Brasil no exterior. Tudo tem sua importância no contexto, mas nada se compara à perda da vida humana, por isto a pergunta: VALE , VALE, VALE... ATÉ “QUANTO” VAI ISTO? 

A Vale reagiu, aparentemente, de forma humanitária para acudir as consequências; os órgãos de Polícia, Judiciário e Ministério Público, também, bloqueando recursos e deliberando pela prisão temporária dos engenheiros envolvidos na execução dos laudos que falavam de estabilidade e riscos das barragens. Aqui, outro ponto importante: mais que apenas multar, independente da natureza das multas, que sempre encontram intermináveis recursos, que as impedem de ser pagas, deveríamos atuar nas quase 700 barragens espalhadas pelo país – 150, aproximadamente, em Minas Gerais –, para que esses fatos não se repitam. Este é o ponto e cabe a segunda interrogação. VALE, VALE, VALE... ATÉ “QUANTO” VAI ISTO?

Eu acredito que a Engenharia Brasileira está preparada para dar esta resposta, de cuidar tecnicamente para evitar novos transtornos, daí minha preocupação com multas que, invariavelmente, não resultam em nada e, neste caso, poderiam ser mais bem aplicadas, agindo para se adequarem as normas e legislações e atuando de forma imediata e conclusiva para barrar esses acidentes previsíveis. Se nós queremos um novo tempo, que ele seja pleno. Que venham as ajudas e parcerias nacionais e internacionais para mudar esses fatos, e não apenas solidarizar com a tragédia em curso.

Quando eu era vestibulando, ainda no século passado, havia um autor muito comentado, Eduardo Galeano, falecido em 2015, que em 1971 escreveu “As veias abertas da América Latina”, independente de matiz política. Em certo trecho ele narra que “(...) na vida existem os que nascem para ganhar e os que nascem para perder (...) e a América Latina nasceu para perder (...)”. Será? O livro tratava do nosso subdesenvolvimento e fica a dúvida: VALE,VALE,VALE... ATÉ “QUANTO” VAI ISTO?

Todos nós devemos reconhecer a importância da Vale enquanto empresa e o que ela representa nas regiões onde está inserida, mas o sacrifício de vidas humanas não tem preço, nem QUANTO, tem sim valor incalculável. Acredito que a tomada de consciência, a efetiva minimização de riscos e planos de contingências, pode contribuir para varrer do Brasil mais este mar de lama.

Sem esse esforço, as lições não serão aprendidas e R$100.000,00 por morto ou desaparecido será o preço pago pelas vítimas (perdedores diretos). Nestas horas joga-se muito para a mídia e, finalizados o momento presente, o clamor popular, volta-se à estaca zero. 

Espero seja a última vez do VALE, VALE, VALE... ATÉ “QUANTO” VAI ISTO? Desejo, de fato, que a empresa, as autoridades e a engenharia respondam definitivamente esta questão. Vamos parar de nos envergonhar das nossas MINAS GERAIS..

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