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A escolha do Chefe

Há alguns anos, chegou às minhas mãos um escrito e, pela atual conjuntura política...

Valdemar Hial
Publicado em 16/09/2015 às 20:17Atualizado em 16/12/2022 às 22:16
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Há alguns anos, chegou às minhas mãos um escrito e, pela atual conjuntura política, resolvi reescrevê-lo, porém com profundas alterações.

A escolha de quem vai chefiar um serviço, uma organização, uma instituição, uma câmara municipal ou federal, um município, um estado ou uma nação, é sempre muito difícil. Às vezes, a escolha recai sobre o melhor, às vezes a escolha é desastrosa e, finalmente, se escolhe por falta de opções.

O nosso corpo resolveu escolher um chefe e travou-se uma verdadeira batalha de egos. O cérebro reivindicava o posto por achar que ele é que comanda todas as atividades do organismo. Soberbo, dizia que nenhum outro órgão possuía os conhecimentos necessários para o cargo. O coração retrucou, dizendo que não necessitava do cérebro para exercer sua função. Eu trabalho de maneira autônoma, até mesmo fora do corpo. Eu envio sangue para todos os órgãos, trabalhando sem parar, de noite e diuturnamente, como disse a Presidente Dilma. Eu, sim, sou um verdadeiro comandante. Os pulmões entraram na parada, dizendo que eles eram os grandes responsáveis por manter a vida. Nós enviamos o oxigênio para todos os tecidos e células a fim de executarem as suas atividades. Sem o oxigênio, todos estariam mortos. Exerço outras funções que não vou elencar para não criar constrangimentos. O fígado logo se candidatou para o cargo. Eu sou o laboratório do organismo; eu processo todos os alimentos que vêm do intestino, colocando-os em condições de serem utilizados por todos vocês. Por exemplo, o cérebro, que se diz todo poderoso, não funcionaria não fosse a glicose que eu preparo para alimentá-lo. Eu transformo todas as substâncias tóxicas em produtos excretáveis para serem eliminados; quase todas as proteínas circulantes são produzidas por mim, além de tantas outras substâncias. Eu sou tão importante para a vida, pois mesmo perdendo 70% ou mais do meu corpo eu ainda volto ao tamanho normal. Os rins diziam que o papel mais importante do organismo cabe a eles. Nós depuramos tudo que é nocivo para todos vocês. Nós somos responsáveis pelo equilíbrio hidroeletrolítico do organismo, ou seja, trabalhamos para manter o volume de água e de eletrólitos (sódio e potássio) dentro dos limites normais; trabalhamos para regular a pressão arterial. O estômago e os intestinos também se candidataram, apresentando fortes argumentos como, por exemplo, o papel que eles desempenham na digestão e absorção dos alimentos. O pâncreas dizia que sem as suas enzimas não haveria digestão dos alimentos e sem a insulina o diabetes seria inevitável. A pele dizia ser o maior órgão do corpo e, portanto, a ela caberia, com seu manto protetor, chefiá-los. A batalha pelo cargo se estendeu por todo o organismo, cada um achando-se mais preparado para o cargo; até mesmo as genitálias ponderaram a sua importância para a procriação e perpetuação da espécie.

     Mas, infelizmente, alguns órgãos adoeceram e outros, fazendo uma análise mais profunda da situação, acabaram recusando o cargo, alegando estarem muito sobrecarregados com suas tarefas. Sobrou para o ânus que, afinal, se tornou o chefe.

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