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Eleições e Fake News

É preciso dedicar um tempo a um dos graves problemas que assolam o Brasil e o mundo

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 06/10/2018 às 11:06Atualizado em 17/12/2022 às 14:11
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É preciso dedicar um tempo a um dos graves problemas que assolam o Brasil e o mundo na atualidade: as chamadas fake news, notícias falsas. Confesso a vocês que elas me preocupam tanto quanto certas mazelas escandalosas e persistentes: a desigualdade social, a fome, a degradação ambiental, a violência, etc. Se as coisas estiverem interligadas, como costumam estar, ao combater as fake news também estaremos dando uma contribuição para melhorar nosso mundo, tão carente de boas notícias.

Com o nome de fofoca, me lembro de muita fake news no meu tempo de criança. Dona Mariquinha, uma vizinha, era famosa por espalhar essas “notícias”. O pior é que todo mundo sabia que ela exagerava um bocado, que não tinha credibilidade, mas suas observações eram terríveis e temidas. A pobre da Dona Mariquinha passava o dia inteiro debruçada na janela, olhando o movimento com interesse digno de uma cientista social. Todos a cumprimentavam, não havia quem não parasse um pouquinho para falar do tempo, do preço das verduras, dos bons costumes e da vida alheia, é claro! Ela era especialista, dava notícia de todo mund onde fulano estava, onde fulana tinha ido, que horas voltou pra casa e com quem se encontrou. Namoros e casamentos eram desmanchados ou confirmados, dependendo do que espalhava a bisbilhoteira. Comparável à janela de sua residência só o salão da barbearia ou certa casa suspeita, frequentada – diziam – apenas por homens solteiros...

Ela podia ser muito respeitada da boca pra fora, dentro das casas das famílias não tinha crédito, ninguém gostava de seus comentários maldosos. Fizemos isso com a política? Criamos o hábito de conferir as notícias antes de repassar? O curioso nas fake news é que, se elas atrapalham a uns, servem a outros. Por isso, não é fácil passar incólume por elas. Pode-se negar, mas o estrago foi feito. Se insistir, fica pior, se ignorar, podem achar que você quer esconder algo. Estratégia! Certamente, é por esse motivo que ninguém esquece a Dona Mariquinha. Falam dela com desdém, mas suas injúrias eram extraordinárias pela capacidade de gerar dúvidas e destruir reputações. Quem está fazendo o papel de Dona Mariquinha nessas eleições?

Indivíduos e grupos obscuros que espalham notícias falsas lembram muito a mexeriqueira: como não conseguem agir às claras, usam e abusam dos fuxicos, das maledicências. Notícias falsas têm clara função política.

Como refutar essas notícias? Como neutralizá-las? Eu penso que com algumas práticas saudáveis é possível. Uma delas é conferir bem antes de reproduzi-las. Outra é a convivência, o debate presencial, a participação em eventos culturais, conversas francas sobre os fatos, a realidade e a própria política. Ler bastante também ajuda, pois é difícil enganar alguém que lê e que sabe o que lê. Como vão votar os brasileiros hoje? Apoiados em fake news ou conscientes do que querem para o futuro do país? 

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