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Um dia, eu tive um cachorro

Vez ou outra, penso nos que antes chamávamos de animais de estimação

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 08/09/2018 às 10:53Atualizado em 17/12/2022 às 13:15
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Vez ou outra, penso nos que antes chamávamos de animais de estimação. Digo antes porque me parece que o nome deles virou pet, não é? Fui aos dicionários. Um português diz que PET é a sigla de Polietileno Tereftalato, ou seja, material termoplástico usado na produção de embalagens. Esclareceu? O Aurélio, na internet, diz que PET é a sigla de tomografia por emissão de pósitrons, provavelmente em inglês, vamos admitir. No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, não encontrei nada sobre isso. Em inglês, há uma infinidade de significados, muitos ligados a animal de estimação. Nas universidades, PET é Programa de Educação Tutorial, e ponto final.

 Ao abrir as páginas da internet e fazer uma busca por pet, surgem bilhões de resultados, desde lojas de produtos variados, clínicas veterinárias a coisas que nunca pensei que existissem. Um universo pet! Pet shop, Pet Store, Pet Bazar e por aí afora. No ritmo que vai, daqui a pouco a palavra estará nos nossos dicionários com seus derivados, verbos, substantivos, etc.: petizada, petslândia, petizou... Ops!

Nada contra, gosto de animais; já tive vários cachorros, gatos e, quando criança, minha casa era um verdadeiro zoológico. Depois eu conto. Hoje, vou falar do Alan, meu cachorro weimaraner. Saudades do bicho. Já se foi. Quando ganhei, estava grande, um cão adulto. Nos entendemos muito bem e ele logo se incorporou à família. Um doce de animal. Será que eu devia chamar de pet? Animal é ofensivo? Espero que não. Bem, o Alan era um cachorro; no início dos anos 1980, acho que poucos usavam a palavra pet.

Ele gostava de se deitar debaixo da minha mesa de trabalho. Incontáveis provas, planos de ensino, planejamentos de aulas fiz com o Alan esparramado ali, quietinho, preguiçoso. Contando assim não dá pra imaginar. Passear com ele era divertido. Eu tinha um fusca vermelho, ele entrava, sentava-se no banco do carona – naquele tempo não tinha cinto de segurança – e rodávamos pela cidade. Eu parava, deixava o vidro aberto, ia resolver algum assunto e ele me aguardava, comportado. Um bom companheiro!

Um dia, minha esposa resolveu sair para passear. Ela, meu filho num carrinho de neném e o Alan na coleira. Ele estava acostumado a passear de carro, em parques, solto, mas não nas calçadas esburacadas da cidade. Assim que saíram pela porta da rua, o Alan ficou agitado. Visualizem a cena: minha esposa tentando controlar um cachorro eufórico e manobrando um carrinho onde estava meu filho de menos de um ano. Os dois, filho e cachorro, devem ter se divertido a valer, ela nunca mais ousou sair com eles ao mesmo tempo. 

O Alan gostava de ficar comigo no escritório. Tenho a impressão, se eu lhe desse um livro, de que ele seria capaz de ler, de tão familiarizado que estava naquele ambiente. Será que os pets de hoje leem e-books?

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