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Feliz Natal!

Na sua função, estava há anos e anos na lida com o crime. Apuração e julgamento de vários crimes

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 21/12/2018 às 20:28Atualizado em 17/12/2022 às 16:41
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Na sua função, estava há anos e anos na lida com o crime. Apuração e julgamento de vários crimes, de morte por tiro, facada, fogo, asfixia; estupro de mulheres, crianças; agressões, corrupção, tortura, até contra passarinho... de tudo. Ao invés do tempo de lida ter transformado esta relação em algo mais banal por ser cotidiana, ao contrário, a cada dia a mais, a cada fato novo, dos mais singelos aos mais bárbaros, a pergunta sempre repetia-se: por quê? Seria a falta do controle do pensar? Seria o controle perdido do sentir? Seria o mal da falta do amor de dentro? Seria a falta do amor de fora? Seria o destempero de tudo isso? Seria mera indiferença por jamais conhecer o bom sentir? Seria apenas o desespero pela gana da paixão, pela perda da posse do amor alheio? Como se o amor, tão abstrato, pudesse ser detido em grades! Mera falta de educação escolar não seria. Afinal, os infratores eram de toda origem. Diversas possibilidades, pensava. Vigorava uma extrema indiferença pela vítima, pelo semelhante, pelo próximo. Parecia esse o grande problema. O Estado, em reação, pode até deter o homem, seu corpo, mas jamais pode deter seu sentimento. Este foge do alcance da grade. A cadeia não garante o remorso, reflexão. Apenas contém fisicamente o criminoso de praticar novo crime por algum tempo, ele que é, em regra, um grande mentiroso. Raros os que realmente se arrependem, raros os que buscam a verdadeira razão de seu agir, o porquê de seu ato. Raros os que de fato admitem seus reais motivos. Mentem até para si mesmo. Buscam apenas se livrar das algemas do Estado, não das causas íntimas do crime, dos grilhões da alma. Porém, somente pelo efeito do amor podem se soltar das limitações da alma. Ocorre que não se está estudando o amor, refletindo-se sobre o amor, difundindo-se o amor, social ou pessoal. O amor ao qual me refiro é aquele de que Cristo falou. Lembremo-nos dele. Feliz Natal!

(*) Juiz de Direito

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