Tinha caído na lama do chiqueiro do quintal e estava toda fedorenta. A mãe ficou muito brava. Há muito sabia que ia dar naquilo. Sua roupa ficou irremediavelmente infectada, mas desta podia se livrar, no entanto, do mau odor que pegou na pele seria difícil, talvez até vermes penetraram no corpo. Ficou melada. Tudo começou quando uma porca pariu e a menina destacou da ninhada uma porquinha. Resolveu adotá-la como bicho de estimação, levou a porquinha para dentro de casa. Banhou, colocou fitas, laços, passou perfume. Reservou lugar asseado e confortável para seu repouso. Por todo tempo publicava fotos da porquinha em redes sociais. A porquinha já nem mais se lembrava do que era um chiqueiro. A mãe nunca gostou da ideia de animal dentro de casa, quanto mais uma porca. Advertia sempre quanto aquela inadequada convivência. A menina ignorava. Já grandinha, certo dia, a porquinha fugiu ao quintal e logo percebeu o aroma que vinha do chiqueiro, onde seus pares permaneceram. Instintivamente, para lá rumou e, quando viu o lamaçal, onde seus entes estavam, ali pulou vorazmente. A menina, que veio ao encalço gritando pela bichinha, ao aproximar-se, tentando alcançá-la, também caiu na lama. A porquinha deleitou-se. A menina enojou-se. A mãe, que veio logo atrás, socorreu a filha. A prima, que seguiu o alvoroço, ainda filmou a menina na lambreca. No impulso, postou em rede. A porquinha de lá não voltou. A menina demorou a livrar-se do cheiro do chiqueiro. Ainda lhe restou, para sempre, o irônico apelido de Docinho, efeito da postagem. No Natal, a mãe, vingando, serviu assada a tal porquinha mimada. A menina não reconheceu a carcaça, mas dela não comeu. Perdeu de vez o gosto por porcos. Do episódio, que realçou a força da origem, restou de útil somente a lição. Escolha bem com quem conviver.
