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A arte de não fazer nada

Quatro? Três? Duas? Uma? Quantas horas por dia você utiliza, das vinte e quatro horas

Júlia Castello Goulart
Publicado em 18/02/2015 às 12:09Atualizado em 16/12/2022 às 03:38
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  A arte de não fazer nada

Quatro? Três? Duas? Uma? Quantas horas por dia você utiliza, das vinte e quatro horas, para se dedicar à arte do ócio? Ah, sim, muitos dizem por aí que o ócio é para os desocupados e que a mente sem trabalho é a oficina da loucura, para não dizer nada pior!

Porém, quando lemos Sêneca, fica fácil perceber sua posição perante este assunto. De acordo com ele, sempre vamos adiando este tempo tão sonhado do descanso, do lazer, para a velhice. Para os gloriosos anos da aposentadoria, vamos assim dizer, mesmo hoje já sabendo que não é bem assim. E o mais irônico é que vivemos para o trabalho a vida toda, juntando dinheiro e mais dinheiro, para somente na velhice poder aproveitar tudo aquilo que nos foi adiado.

Mas não se preocupe, é extremamente normal sentir dificuldade de aproveitar a vida, porque temos aquela maldita necessidade, principalmente nos dias de hoje, de não conseguirmos ficar sem fazer nada. Precisamos do celular, da internet, de qualquer coisa para nos entreter. Não importa onde estamos não conseguimos simplesmente parar e pensar num assunto que vier à cabeça. Não conseguimos olhar as estrelas, ouvir uma música que saibamos a letra de cor, ou mesmo observar as nuvens para achar formas, como certamente fazíamos na infância.

Na infância, podíamos gastar o tempo que quiséssemos para contar as gotas da chuva que escorriam pela janela. Mas aí, vamos crescendo, e o tempo parece ser inversamente proporcional com a idade. Nossa idade aumenta e o tempo que temos diminui, porque junto com a idade, vêm mais responsabilidades, claro.

Mas mesmo assim, acredito que sempre culpamos o tempo, por não termos mais tempo para fazer as coisas que queríamos. O problema nunca é o tempo que ainda temos pra viver, e sim como nós o utilizamos.

É necessário que tentemos tirar uma semana, um dia, uma hora, um minuto que seja, para pensarmos no tempo, na vida; ou fazermos algo para nós. Às vezes, melhor ainda, não pensar ou não fazer simplesmente nada. Sêneca com certeza tinha razão, deixamos todas as coisas pequenas que, às vezes gostaríamos de fazer, para a velhice. Entretanto, a velhice não deveria ser a última etapa, para aproveitarmos depois de tudo, a vida.

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